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Falta de fundos ameaça trabalho de associação que apoia crianças com necessidades especiais em Cabo Verde

LUSA
06-08-2025 10:53h

A Colmeia, associação cabo-verdiana que apoia anualmente mais de 800 crianças e jovens com necessidades especiais, corre o risco de encerrar as suas atividades por falta de financiamento, disse à Lusa a presidente da instituição.

"Contamos atualmente com 11 colaboradores, incluindo sete especialistas. Se os problemas de financiamento persistirem, não conseguiremos manter os profissionais que garantem estas respostas e poderemos mesmo ter de fechar as portas", disse a presidente da Associação de Pais e Amigos de Crianças e Jovens com Necessidades Especiais (Colmeia), Isabel Moniz.

Para travar o encerramento das suas atividades, a Colmeia tem procurado apoios nacionais e internacionais, além de lançar campanhas para dar visibilidade ao trabalho que desenvolve com famílias e comunidades.

"Temos falado com o Governo sobre a atribuição de um subsídio mais robusto, tendo em conta que a Colmeia está a prestar um verdadeiro serviço público. Mas temos contado apenas com apoios pontuais, que muitas vezes não chegam a tempo, nem na quantidade necessária para sustentar a nossa resposta", lamentou.

A associação não dispõe, até ao momento, de qualquer financiamento de longo prazo, o que compromete a sustentabilidade das respostas de reabilitação e habilitação, fundamentais para melhorar a qualidade de vida das crianças e jovens com deficiência e das suas famílias.

"Quem nos tem mantido a porta aberta é um projeto de uma igreja que nos tem apoiado nos atendimentos. Também tivemos apoios pontuais de algumas instituições", afirmou.

A Colmeia oferece apoio psicológico, neuropsicológico, fisioterapia, terapia da fala, psicologia clínica, educacional e familiar, bem como acompanhamento através do serviço social.

Embora esteja sediada na capital cabo-verdiana, presta apoio a famílias em situação de vulnerabilidade em várias ilhas do país.

"Apoiamos mais de 800 utentes diretos por ano – entre crianças, adolescentes e jovens. Se incluirmos os pais, esse número triplica. Muitas famílias vivem em grande vulnerabilidade e não sabem como lidar com estas situações. Sem orientação nem apoio, muitas acabam por desistir", sublinhou Isabel Moniz.

A responsável defende que seriam necessários pelo menos dez especialistas em permanência – incluindo terapeutas, psiquiatras da infância, psicólogos, neuropsicólogos, fisioterapeutas e terapeutas da fala – para dar resposta à procura efetiva.

Em abril de 2024, a associação pediu uma iniciativa legislativa que permitisse aplicar propostas entregues um ano antes no parlamento, com o objetivo de reforçar os direitos e apoios às pessoas com deficiência em Cabo Verde.

O documento apresentava dez propostas concretas, como a criação de um serviço de intervenção precoce, constituição de equipas multidisciplinares, comparticipação de terapias pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), diagnóstico educacional precoce, colocação de professores de apoio nas salas de aula, formação e integração profissional, criação de emprego protegido e menos burocracia nas juntas médicas.

A Colmeia foi constituída em 16 de abril de 2014 e tem como principal missão sensibilizar a população e os poderes públicos para a temática da deficiência, nomeadamente a criação de respostas e oportunidades.

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