O Hospital de Faro está com “picos anormalmente elevados” de acesso de utentes que chegam de ambulância ao serviço de urgência, com impacto nos tempos de espera, reconheceu hoje a administração da Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve.
Após, na quarta-feira, ter sido noticiada pela TVI a acumulação de cerca de uma dezena de ambulâncias junto à urgência do hospital de Faro, enquanto aguardavam que os doentes transportados fossem atendidos e as macas libertadas, a agência Lusa questionou a administração hospitalar, que assegurou estarem a ser tomadas medidas para reduzir os constrangimentos verificados.
“Confirma-se que nos últimos dias se têm registado picos anormalmente elevados de afluência de utentes transportados em ambulância ao Serviço de Urgência do Hospital de Faro, ou seja, evidenciando situações de maior de complexidade, o que tem provocado alguns constrangimentos no tempo de espera, dada a necessidade de acomodação dos utentes”, justificou a ULS do Algarve numa resposta escrita enviada à Lusa.
A unidade de saúde algarvia adiantou ainda que a “Direção Clínica está a atuar em diversas medidas para diminuir os constrangimentos existentes”, mas sem especificar quais e sem aprofundar mais o assunto.
Fonte do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) no Algarve disse à Lusa que tem havido um “afluxo grande” às unidades da ULS do Algarve, nas quais se incluem os hospitais de Faro, Portimão e Lagos, mas sublinhou que esta é “uma situação que se verifica todos os anos” no verão, sem que sejam acauteladas as medidas necessárias, como a contratação de profissionais em falta.
Alda Pereira, do SEP no Algarve, recordou que a região tem um aumento exponencial de população durante o verão e os serviços de saúde, que já estão a trabalhar com menos recursos humanos que os previstos, acabam por não dar uma resposta tão atempada como seria expectável.
“Nesta altura, a população pode até triplicar ou quadruplicar, e o Plano de Verão não salvaguarda estas situações”, considerou, frisando que há serviços que contactam o sindicato porque “não têm enfermeiros para trabalhar” devido à falta de recursos humanos.
A dirigente do SEP deu o exemplo do serviço de urgência, que devia ter mais de 80 profissionais e só conta com cerca de 70, salientando que esta situação também se verifica com outros serviços e outras classes profissionais, como médicos ou assistentes operacionais.
Com a falta de recursos humanos e a elevada afluência, o desgaste é maior e alguns profissionais deixam os serviços ou acabam com esgotamentos, diminuindo ainda mais o número de profissionais disponíveis.
O afluxo elevado, aliado à falta de profissionais, causa um “aumento dos tempos de espera” e uma “ineficiência nos tempos em que as pessoas deviam ser avaliadas”.
“Apesar dos esforços que são feitos para contratar enfermeiros, abrindo concursos, não é suficiente, porque também é preciso motivar os profissionais”, disse Alda Pereira, frisando que esta situação depois “reflete-se em tudo o resto”.
A Lusa tentou também ouvir representantes sindicais da classe médica, mas sem sucesso.