O Ministério da Saúde moçambicano suspendeu a realização de visitas de supervisão, formação contínua, reuniões e atividades similares, com o objetivo de melhorar o atendimento e usar melhor os recursos, com exceção para casos de emergência ou surtos.
De acordo com uma circular de 30 de junho consultada hoje pela Lusa, o Ministério vê a “necessidade de melhorar o uso de recursos alocados ao ministério, promover o seu uso racional e garantir que os mesmos sejam direcionados para intervenções cujo resultado vai gerar impacto positivo na disponibilidade de medicamentos e artigos médicos”.
O documento refere ainda que a medida vai gerar “disponibilidade de reagentes, alimentação e outras condições para o atendimento humanizado” nos hospitais moçambicanos.
O Ministério indica que a realização destas atividades deverá carecer de uma “aprovação excecional” desde que fundamentada, não devendo os participantes ausentar-se do trabalho mais de cinco dias úteis ao mês.
O setor da saúde em Moçambique enfrenta vários desafios, agravados, nos últimos três anos, por greves e paralisações convocadas por médicos e diferentes profissionais do setor, exigindo melhorias das condições de trabalho e revisão de políticas salariais.
O país tem um total de 1.778 unidades de saúde, 107 das quais são postos de saúde, três hospitais especializados, quatro hospitais centrais, sete gerais, sete provinciais, 22 rurais e 47 distritais, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde.
O ministro da Saúde de Moçambique também prometeu em 09 de junho medidas duras contra a “arrogância” de profissionais de saúde no atendimento hospitalar, considerando esse comportamento uma das “doenças” do setor e um desrespeito às necessidades do povo.
“A prepotência e a arrogância dos profissionais de saúde nas unidades sanitárias são algumas das doenças que enfermam o setor”, afirmou Usseine Isse, ao discursar, em Maputo, no lançamento da Semana de Saúde e Bem-Estar, no âmbito das comemorações dos 50 anos da independência de Moçambique.
Perante uma plateia que incluía profissionais de saúde e líderes comunitários, o ministro, que até janeiro, aquando da posse do atual Governo, exerceu as funções de médico e cirurgião, por cerca de 30 anos, recordou que quem recorre a um hospital “vai buscar esperança”, mas em muitos casos encontra maus-tratos.
“Quando chega ali, há arrogância, há arrogância. Trata mal. Quando alguém chega, está doente, está no telefone, está a ouvir música, está a escrever, não está a falar com o doente”, criticou.
Isse sublinhou que a mudança de atitude é urgente e avisou que os comportamentos abusivos não serão tolerados: “Eu estarei implacável, serei implacável para esse tipo de prática. Eu não vou perdoar, porque o povo não pode sofrer por causa de uma pessoa”.
O ministro pediu ainda vigilância e responsabilidade coletiva, encorajando os profissionais a corrigirem internamente essas práticas.
“Quero que sejam vigilantes, cada um de vocês tem que ser vigilante, tem que ajudar o seu colega e não permitir que a arrogância tome conta dele”, apelou, considerando que as exigências do povo, quando procura um hospital, são simples.
“Um bom hospital, ser bem atendido, uma cama com lençol, uma manta, comida no hospital e medicamentos”, disse, reiterando o compromisso do Governo em melhorar a qualidade do atendimento e devolver dignidade aos serviços de saúde.