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Médio Oriente: ONG acusa entidade de ajuda em Gaza de fazer "matança disfarçada"

LUSA
27-06-2025 10:56h

A organização Médicos Sem Fronteiras acusou hoje a entidade que distribui alimentos em Gaza – Fundação Humanitária de Gaza (FHG), próxima de Israel e Estados Unidos - de constituir uma “matança disfarçada de prestação de ajuda humanitária”.

“Quando se assinala um mês após a entrada em funcionamento da Fundação Humanitária de Gaza (…) é claro que este esquema é uma matança disfarçada de prestação de ajuda humanitária – mais de 500 pessoas foram mortas e quase quatro mil feridas quando tentavam obter comida”, referiu a organização internacional médica-humanitária, em comunicado hoje divulgado.

“O esquema israelita e norte-americano de distribuição de alimentos em Gaza está a degradar a vida dos palestinianos, deliberadamente, forçando as pessoas a terem de escolher entre não terem o que comer ou arriscar a vida para obter provisões mínimas”, apontou a MSF.

“Este esquema deve ser imediatamente desmantelado” pelas autoridades israelitas e aliadas, instou a organização, apelando também a que seja levantado o bloqueio de alimentos, combustível, material médico e humanitário a Gaza e que se regresse ao sistema humanitário preexistente, coordenado pela ONU.

De acordo com a Médicos Sem Fronteiras, o caos instalado durante as distribuições de ajuda aos palestinianos, que resultaram em mortes e ferimentos, “foi orquestrado pela organização representativa de Israel-EUA”.

A forma como os mantimentos são distribuídos “obriga milhares de palestinianos, que estão famintos devido a um bloqueio israelita que dura há mais de 100 dias, a caminhar longas distâncias para chegar aos quatro locais de distribuição e a lutar pelos restos de comida", descreve.

"Estes locais impedem que mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência acedam a ajuda, e as pessoas são mortas e feridas neste processo caótico”, descreveu a MSF.

Sublinhando que a situação não pode continuar, a organização lamentou que a comunidade internacional esteja “aparentemente resignada” e que permita “perpetuar uma campanha consistente com padrões de genocídio”.

De acordo com o coordenador de emergência da MSF em Gaza, Aitor Zabalgogeaskoa, os quatro locais de distribuição, todos localizados em áreas sob controlo total das forças israelitas depois de pessoas terem sido deslocadas à força a partir daí, são do tamanho de campos de futebol, rodeados por postos de observação, montes de terra e arame farpado.

“A entrada cercada oferece apenas um ponto de acesso para entrada ou saída. Os funcionários da FHG largam as paletes e as caixas de alimentos e abrem as vedações, permitindo que milhares de pessoas entrem de uma só vez para lutar até ao último grão de arroz”, descreveu.

“Se as pessoas chegarem cedo e se aproximarem dos postos de controlo, são baleadas”, criticou, acrescentando que “se chegarem atrasados, não podem permanecer ali porque é uma 'zona evacuada' e serão baleados”.

À medida que as distribuições prosseguem, refere a MSF, as equipas médicas notam um aumento acentuado no número de pacientes com ferimentos de bala.

“No hospital de campanha da MSF, em Deir Al-Balah, o número de doentes com ferimentos de bala aumentou 190% na semana de 08 de junho, em comparação com a semana anterior”, avançou a organização médica, sublinhando que “os hospitais de Gaza, que ainda funcionam precariamente, estão devastados, com fornecimentos mínimos de analgésicos, anestésicos e sangue” enquanto os hospitais em pleno funcionamento têm dificuldade em lidar com um número tão elevado de doentes.

“A clínica da MSF em Al-Mawasi, que normalmente não está equipada para tratar doentes traumatizados, recebeu 423 feridos dos locais de distribuição desde 07 de junho”, adiantou a MSF que explica que, todos os dias, são recebidos pelo menos 10 feridos graves dos locais de distribuição de ajuda.

“A ajuda humanitária não pode ser controlada por uma parte em guerra para promover os seus objetivos militares”, defende a organização, acusando Israel de usar deliberadamente a fome contra os palestinianos em Gaza.

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