SAÚDE QUE SE VÊ

Equipa da Alfredo da Costa leva há um ano cuidados a grávidas de risco internadas em casa

LUSA
09-05-2025 14:05h

A viver uma gravidez de risco aos 26 anos, Bruna está internada em casa com apoio da equipa da Maternidade Alfredo da Costa, que já acompanhou sete mulheres desde que o projeto de hospitalização domiciliária começou há um ano.

Fortes dores pélvicas e lombares levaram Bruna Rodrigues a recorrer à Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, onde ficou dez dias na Unidade de Internamento de Medicina Materno-Fetal.

Após estabilização clínica, reunia as condições para continuar o internamento em casa, sob vigilância permanente da equipa multidisciplinar de hospitalização domiciliária da MAC, composta pelas médicas obstetras Fátima Palma e Inês Antunes e pelas enfermeiras especialistas Catarina Teixeira e Patrícia Coelho.

Grávida de quase 29 semanas, Bruna está hospitalizada em casa desde 17 de abril, o que lhe trouxe mais tranquilidade. Além de estar junto da família, sabe que pode contar com o apoio das especialistas a qualquer momento.

“Em casa é muito melhor do que estar internada num hospital”, disse à agência Lusa, contando que as dores diminuíram e se sente mais serena.

No domicílio, Bruna, grávida pela primeira vez, controla a tensão arterial e faz o registo cardiotocográfico (CTG), cujos resultados reporta à equipa nas videoconsultas diárias, complementadas com uma consulta presencial às quartas-feiras.

A enfermeira especialista Patrícia Coelho explicou que, antes de ir para o domicílio, as grávidas recebem formação específica, e os aparelhos necessários, para garantir que fazem a automonitorização em segurança, com o apoio do acompanhante, além de administras as injeções necessárias.

Além das consultas, a grávida dispõe de um contacto telefónico da equipa de enfermagem do internamento para esclarecer alguma dúvida ou responder a uma emergência, disse Patrícia Coelho.

A ideia de criar este projeto de hospitalização domiciliária em obstetrícia, pioneiro em Portugal, partiu de Inês Antunes, obstetra na Maternidade Alfredo da Costa, onde completou a especialidade em 2016.

Durante o internato, percebeu que havia muitos internamentos prolongados em casos que podiam ser acompanhados no domicílio. Inspirada por experiências no estrangeiro, começou a trabalhar na implementação do projeto, que enfrentou algumas dificuldades, especialmente de recursos humanos.

“Não havia elementos suficientes que pudessem ser dispensados, ou que pudessem ter este trabalho, porque nós todas continuamos com o nosso trabalho assistencial normal e este é um trabalho extra que estamos a fazer desde o início”, disse Inês Antunes, apontando também as dificuldades em termos de tecnologia para a vigilância remota, que exige investimento.

Faz hoje um ano que o projeto arrancou, destinando-se a grávidas com internamento prévio na maternidade, com um tempo de gestação entre as 24 e as 32 semanas e risco de parto prematuro.

“São senhoras que tipicamente ficavam semanas e semanas em internamento”, disse Inês Antunes.

Segundo Fátima Palma, coordenadora do projeto, a ameaça de parto pré-termo representa um terço dos internamentos no serviço, o que levou a abrir uma consulta de risco de parto prematuro, que permitiu reduzir o número de hospitalizações.

As grávidas que estão estabilizadas, mas continuam com risco de parto prematuro, podem ser internadas em casa, desde que tenham condições sociais adequadas e residam até 30 minutos da maternidade, salientou.

Esse critério, explicou a enfermeira Catarina Teixeira, é essencial para garantir uma resposta rápida, caso surja uma complicação, e um desfecho positivo da gravidez.

“Temos a capacidade de monitorizar à distância e trazê-las de volta em tempo útil ao hospital”, para que possam receber a medicação necessária para melhorar o desfecho do eventual nascimento ou “suspender o trabalho de parto, se assim for possível”, salientou.

Fátima Palma destacou que este critério de proximidade faz excluir muitas grávidas deste projeto, que recolhe satisfação por parte das utentes.

“Um internamento prolongado durante um mês, fora da família, com o risco de o bebé nascer antes do tempo, é algo que perturba e prejudica a qualidade de vida das grávidas”, sublinhou.

Além do benefício emocional e clínico, Cristina Almeida, administradora hospitalar, destacou também como “uma grande mais-valia” deste projeto a libertação de camas na maternidade.

Atualmente, o projeto tem capacidade para três internamentos domiciliários, mas o objetivo é alargar esse número, o que exigirá mais equipamento e reforço da equipa, disse Cristina Almeida.

MAIS NOTÍCIAS