O único centro de investigação do mundo sobre o micetoma, doença tropical infecciosa que afeta particularmente os mais desfavorecidos, foi destruído pela guerra no Sudão, anunciaram o seu fundador e a diretora de um programa de saúde especializado.
“O centro e todas as suas infraestruturas foram destruídos durante a guerra”, que opõe o exército governamental e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) desde abril de 2023, declarou à AFP o seu diretor, Ahmed Fahal.
O conflito, que já matou centenas de milhares de pessoas e desalojou 13 milhões, levou ao colapso do sistema de saúde.
Num vídeo enviado à AFP na quarta-feira, o centro de investigação do MRC aparentava estar consideravelmente danificado, com tetos desabados, prateleiras reviradas, frigoríficos abertos e documentos espalhados.
A AFP não pôde confirmar o seu estado no local.
“É de partir o coração ver 40 anos de trabalho do Dr. Fahal desaparecer desta forma”, lamentou Borna Nyaoke-Anoke, diretora do programa de micetoma da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), uma organização de investigação independente e sem fins lucrativos com sede em Genebra.
“Perdemos todo o conteúdo dos nossos bancos biológicos, que continham dados com mais de 40 anos”, lamentou Ahmed Fahal.
“É difícil de suportar”, lamentou.
O MRC, fundado em 1991 sob a égide da Universidade de Cartum, é o único no mundo dedicado ao estudo do micetoma, confirmou à AFP a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O centro contava com 50 investigadores e, segundo o seu fundador, tratava em média 12 mil pacientes anualmente.
Em 2019, o centro liderou o primeiro ensaio clínico do mundo sobre esta patologia, com o apoio da OMS e do Governo sudanês.
O micetoma, causado por bactérias ou fungos presentes no solo ou na água, pode chegar ao ponto de corroer os ossos.
Numa fase avançada, “a amputação torna-se a única opção”, explicou Nyaoke-Anoke.
Em 2016, o micetoma, que afeta particularmente as populações desfavorecidas, bem como os agricultores, os trabalhadores e os pastores dos países em desenvolvimento, foi classificado pela OMS como uma “doença tropical negligenciada” (DTN).
“Temos tendência a dizer que o micetoma é uma das doenças tropicais negligenciadas mais negligenciadas”, salientou.
“Para obter tratamento, os doentes costumavam vir da Etiópia, do Chade, da Nigéria e até do Iémen”, acrescentou.
“Atualmente, o Sudão deu um grande passo atrás”, lamentou a especialista.