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Associação alerta para perigo de "cultura hospitalocêntrica" das unidades locais de saúde

Lusa
22-03-2024 14:44h

O presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) manifestou-se hoje preocupado com a recente criação das novas unidades locais de saúde, alertando para o perigo de uma “cultura hospitalocêntrica” que subalternize os cuidados primários.

Em declarações à Lusa em Barcelos, durante o Encontro da Primavera da USF-NA, André Biscaia criticou ainda a dimensão de algumas Unidades Locais de Saúde (ULS), “que são maiores do que alguns países”.

“Aquilo que se fez foram realmente estruturas demasiado grandes e, claramente, o modelo não estava preparado para este passo”, referiu.

André Biscaia disse temer que os cuidados primários passem a ser vistos “como um departamento de uma estrutura hospitalar”, considerando que uma cultura hospitalocêntrica é o verdadeiro perigo” para o sistema.

“Pode criar disrupções numa área [cuidados primários] que estava a funcionar muito bem e que tem sido também uma parte muito responsável pelos bons resultados que Portugal tem em relação à maior parte dos indicadores de saúde”, alertou.

Lembrou que já há ULS em Portugal há 20 anos e que os resultados “não favoreciam esta generalização” agora operada.

Disse ainda que o modelo foi feito sem ter em conta os contextos de cada unidade, sublinhando, por exemplo, que “um hospital universitário não é a mesma coisa que um hospital do interior”.

“Devia ter havido alguma cautela”, referiu.

Os resultados de um questionário feito junto dos coordenadores das unidades de saúde familiar (USF) de todo o país, hoje divulgado, dá conta de que a maioria dos profissionais que trabalham nos cuidados primários não se sente valorizada e não vê vantagens decorrentes da criação das ULS.

“Foi uma decisão feita de cima para baixo, sem o seu necessário envolvimento e, passados três meses, os cuidados primários continuam a não ser envolvidos nas decisões. Ou seja, a lógica parece ser como é que os hospitais podem aliviar um pouco da sua carga de trabalho endereçando-o para os cuidados primários”, apontou André Biscaia.

Para o presidente da USF-AN ainda há tempo para arrepiar caminho e acertar agulhas, desde logo melhorando a comunicação e apostando na formação de profissionais e lideranças, para que as ULS funcionem numa lógica de verdadeira integração de cuidados.

“Se esta mudança não for feita, há um perigo enorme de acontecer uma grande disrupção de todo o sistema”, rematou.

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