A elevada taxa de partos por cesariana na China foi analisada por um investigador da Universidade de Coimbra (UC), que responsabiliza a orientação geral das políticas públicas de saúde maternal chinesas e a gestão dos recursos hospitalares.
O estudo, da autoria de Gonçalo Santos, investigador do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), propõe uma nova explicação para a elevada taxa de cesarianas na China, que é sensivelmente o triplo da recomendada pela Organização Mundial de Saúde, anunciou hoje a UC, em nota de imprensa enviada à agência Lusa.
“Até recentemente, os hospitais públicos, onde grande parte das mulheres chinesas dão à luz, não ofereciam a opção de anestesia durante o trabalho de parto vaginal e a cesariana era a única forma de escapar à dor inerente a este processo. Neste estudo, este é um dos fatores apontados como uma das explicações para a popularidade da cesariana na China de hoje, mas não é o único”, adiantou.
O trabalho, que teve a colaboração da antropóloga Jun Zhang, da City University de Hong Kong, e que foi publicado na revista Modern China, adianta que, “tal como em Portugal, a China está já há alguns anos no grupo dos países com a taxa de cesarianas mais alta do mundo”.
Apesar de o governo central chinês ter lançado uma série de medidas – não reveladas no comunicado – para reduzir a taxa de cesarianas, esta continua a ser uma das mais elevadas do mundo, vincou o antropólogo da UC.
Um fenómeno que disse ser “causado por fatores estruturais relacionados com a orientação geral das políticas públicas de saúde maternal e com a forma como são geridos os recursos e as finanças dos hospitais com serviços de obstetrícia”.
“A explicação, ainda hoje dominante, para a alta taxa de cesarianas na China aponta para uma subida na procura deste tipo de parto devido a uma melhoria generalizada das condições hospitalares para a realização de cirurgias. Por outro lado, ocorreu também uma mudança de atitude em relação ao parto, incluindo o facto de as mulheres chinesas de hoje, ao contrário de gerações anteriores, não quererem passar pela dureza do parto vaginal e considerarem não ter idade ou aptidão física necessária para o suportar”, sustentou Gonçalo Santos.
No entanto, o investigador contrariou esta explicação, observando que o aumento da taxa de procura “é um fator relevante, mas não suficiente, porque as escolhas das mulheres são sujeitas a condicionantes estruturais”.
“Para explicar esta persistência, na China ou noutro país qualquer, incluindo Portugal, não nos podemos limitar a fatores simplistas como variações nas taxas de procura”, argumentou o investigador da FCTUC.
“A persistência da alta taxa de cesarianas da China deve ser explicada por fatores estruturais que têm a ver com a orientação geral das políticas públicas de saúde maternal e de gestão hospitalar”, reafirmou.
“É necessário olhar mais fundo, para os fatores políticos e económicos que condicionam as escolhas e as preferências dos vários atores envolvidos no processo do parto com todas as suas incertezas, imponderáveis e imprevisíveis”, defendeu Gonçalo Santos.