O Presidente russo, Vladimir Putin, aproveitou hoje o discurso anual sobre o estado da nação para reafirmar ameaças contra o Ocidente, incluindo de um conflito nuclear, e a confiança numa vitória militar na Ucrânia.
No plano interno, Putin prometeu combater a pobreza, admitiu a existência de 13 milhões de pobres no país de cerca de 140 milhões de habitantes, e anunciou apoios às famílias mais carenciadas.
Vladimir Putin, 71 anos, há mais de duas décadas no poder, é candidato a um quinto mandato nas eleições presidenciais que se realizam de 15 a 17 de março, com a reeleição praticamente garantida dada a ausência de oposição.
Putin começou o discurso anual, de cerca de duas horas, com a promessa de uma vitória na guerra contra a Ucrânia, onde disse que as tropas russas avançam “com confiança” em várias frentes.
Dois anos depois do início da “ofensiva militar especial”, a designação oficial da invasão, assegurou que nenhum soldado recuará nem trairá a Rússia.
“Acredito nas nossas vitórias e nos nossos êxitos, acredito no futuro da Rússia”, afirmou.
O Ocidente voltou a ser um dos alvos, com Putin a advertir que o país tem armas que podem alcançar países ocidentais, numa alusão a armamento fornecido à Ucrânia capaz de atingir território russo.
Putin respondeu também à possibilidade do envio de tropas ocidentais para a Ucrânia, admitida pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, lembrando que a Alemanha o fez durante a Segunda Guerra Mundial sem êxito.
“Agora, as consequências para os potenciais intervencionistas serão muito mais trágicas”, advertiu, acusando o Ocidente de fazer ameaças que poderão levar a um conflito nuclear, “o que significaria a destruição da civilização”.
Acusou o Ocidente de práticas coloniais e de procurar impedir o progresso da Rússia, replicando no país “o que fizeram em muitos outros”, incluindo a Ucrânia.
“Querem (…) semear a discórdia na nossa casa e enfraquecer-nos a partir de dentro”, denunciou, elogiando a “firme resolução e determinação” do povo russo.
Disse que a ofensiva na Ucrânia tem permitido às forças russas adquirir “muita experiência em termos de coordenação de todas as alas militares, bem como de domínio das mais recentes táticas e métodos de guerra”.
Putin reafirmou também a disponibilidade da Rússia para dialogar com os Estados Unidos sobre “questões de estabilidade estratégica”, mas acusou Washington de “tomar medidas abertamente hostis” em relação a Moscovo.
Criticou o que qualificou como hipocrisia do Ocidente ao fazer “alegações infundadas” sobre planos russos para instalar armas nucleares no espaço.
Lembrou que a Rússia fez uma proposta para um acordo sobre a questão em 2008, sem nunca ter obtido resposta.
“Estas narrativas falsas (…) têm por objetivo envolver-nos em negociações sobre as suas condições, que apenas beneficiarão os Estados Unidos”, afirmou.
Acusou ainda os Estados Unidos “e os seus satélites” de terem desmantelado o sistema de segurança europeu e manifestou o interesse da Rússia na criação de “um novo contorno de segurança igual e indivisível na Eurásia”.
“Ao mesmo tempo, gostaria de reiterar (…) que não é possível uma ordem internacional duradoura sem uma Rússia forte e soberana”, afirmou.
Com as eleições de março em vista, anunciou um novo projeto nacional de apoio à natalidade, a que chamou “Família”.
“Uma família com muitos filhos deve tornar-se a norma”, disse, ao elogiar os “valores tradicionais” da sociedade russa.
Putin disse ainda que o salário mínimo no país deverá duplicar até 2030, atingindo o equivalente a cerca de 360 euros, e prometeu investimentos na educação e saúde.
O discurso ocorreu na véspera do funeral do principal opositor de Putin, o ativista anticorrupção Alexei Navalny, que morreu na prisão em 16 de fevereiro em circunstâncias obscuras.
Putin, que nunca mencionou o nome de Navalny em público, ainda não comentou a morte do ativista de 47 anos, que chocou os países ocidentais.