A Associação Stop Idadismo lança quinta-feira um manifesto para que os partidos políticos deixem de encarar a vida das pessoas mais velhas apenas do ponto de vista das pensões e trabalhem pela valorização do que podem dar à sociedade.
“A única preocupação que surge nos debates é a palavra pensão, isso é importante, mas não é tudo. Queremos garantir o acesso a cuidados de saúde e também ao mercado de trabalho”, disse à agência Lusa o presidente da associação, José Carreira.
O manifesto “Portugal para Todas as Idades” contém várias propostas, nomeadamente uma revisão do Plano de Ação para o Envelhecimento Ativo, por forma a que um dos pilares estratégicos seja justamente o combate ao idadismo (discriminação em função da idade).
A associação, que começou por ser um movimento, pretende igualmente uma revisão da Constituição da República Portuguesa para incluir a idade nos princípios da igualdade, pelos quais os cidadãos não podem ser discriminados, como a cor da pele, religião ou género (Artigo 13º).
O mesmo responsável considerou que é necessário assegurar “uma transição suave” para a reforma a quem pretende continuar ativo. O trabalho a meio tempo poderá ser uma opção.
“Devem ser criadas modalidades de transição, até porque é isso que está a acontecer noutros países, como a Alemanha, e quando essa reforma é compulsiva tem consequências na saúde física e mental das pessoas”, defendeu, acrescentando que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) prioriza o combate ao idadismo.
“Muitas vezes, essas pessoas são afastadas nas empresas para serem substituídas por outras mais novas, mais baratas, com o falso argumento de não se adaptarem e não serem criativas, o que não é verdade. A criatividade não tem nada a ver com a idade”, acrescentou José Carreira.
O manifesto seguiu já para os partidos com assento parlamentar, aos quais serão solicitadas reuniões após as eleições de 10 de março, que ditarão a nova composição do parlamento.
A palavra idadismo, sustentou, entrou no dicionário da língua portuguesa em abril de 2023, mas “não entrou nos programas dos partidos”.
“Portugal deve posicionar-se para que exista uma Convenção Universal dos Direitos da Pessoa Idosa”, advogou o dirigente associativo, sublinhando que grande parte desta população não tem literacia para defender os seus direitos.
De acordo com José Carreira, a idade é a terceira causa de discriminação, a seguir ao racismo e ao sexismo.
A organização pretende ainda a criação de um Observatório para que sejam desenvolvidos estudos académicos destinados à adoção de medidas.
Igualmente importante, considerou o dirigente, é chegar às escolas para combater preconceitos: “Nas histórias, a personagem da bruxa má continua a ser uma pessoa feia e velha”.
Para assinalar o lançamento do manifesto, a associação promove uma videoconferência, com o apoio do Centro Internacional de Longevidade Brasil e da Liga Iberoamericana de Combate ao Idadismo, que conta com a participação de especialistas e ativistas contra o idadismo.