A Pulmonale – Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão considerou hoje inaceitável que o Governo tenha desaproveitado a linha de financiamento europeia que permitia avançar com rastreios do cancro do pulmão, causando “prejuízo a todos os portugueses”.
“É inaceitável que, tendo havido em 2023 uma linha da União Europeia que se destinava a que os Estados Membros pudessem avançar com projetos-piloto na área dos novos rastreios, nada tenha sido feito (…). O rastreio ficou mais uma vez adiado com prejuízo de todos os portugueses”, disse a presidente da Pulmonale, Isabel Magalhães.
No sábado, o presidente da associação dos Centros de Responsabilidade Integrados (CRI) denunciou que o Governo deixou encerrar em 2023 a linha de financiamento europeia que permitia avançar com rastreios do cancro do pulmão.
“Tivemos conhecimento disso numa reunião que a associação teve a pedido da associação de rastreio do cancro do pulmão (…). Não se podem desperdiçar estas linhas de financiamento europeu”, disse à Lusa João Varandas Fernandes.
Lembrando que o cancro do pulmão “continua a ser a doença oncológica com maior mortalidade associada e isso decorre de os diagnósticos ocorrerem maioritariamente em fase avançada”, Isabel Magalhães recordou que a Pulmonale tem um projeto-piloto para este âmbito desde 2021.
À Lusa, Isabel Magalhães descreveu os passos dados pela associação, falou dos contactos com a tutela, nomeadamente com a secretária de Estado da Promoção da Saúde, e afirmou que "o próprio ministro Manuel Pizarro manifestou interesse no projeto”.
“Até que nada nos foi dito, apesar das nossas insistências. O Governo deixou a linha encerrar e não se candidatou e não avançou nem com o nosso projeto nem com outro projeto”, lamentou.
Isabel Magalhães considerou inaceitável que “esta oportunidade se tenha perdido” depois de a Pulmunale ter apresentado um projeto "feito por especialistas que trabalharam ‘pro bono’" e definiram um projeto-piloto que, acrescentou, "está perfeitamente alinhado com as orientações científicas a nível internacional”.
A agência Lusa contactou o Ministério da Saúde que, em resposta escrita, referiu que neste tema “não estão em causa constrangimentos de ordem financeira”.
“Os novos rastreios recomendados pela União Europeia, com uma significativa contribuição de Portugal (rastreio do cancro da próstata com ressonância magnética; rastreio do cancro do estômago em certas comunidades; rastreio de cancro do pulmão em grandes fumadores) dependem da definição de normas técnicas adequadas e da criação de condições organizacionais adequadas”, lê-se na resposta da tutela.
Para Isabel Magalhães, “a justificação do Governo é falaciosa. Há orientações perfeitamente definidas a nível internacional. Não é verdade que não existam condições técnicas para avançar com o projeto”.
Em dezembro de 2022, o ministro Manuel Pizarro anunciou o alargamento do programa de rastreios oncológicos aos cancros do pulmão, da próstata e do estômago, apontando que arrancariam em 2023 com projetos-piloto. Contudo, tal acabou por não acontecer.
Em novembro do ano passado, o alargamento dos programas de rastreio oncológico aos cancros do pulmão, da próstata e do estômago acabou por ser incluído no Orçamento do Estado para 2024 (OE2024).
O cancro do pulmão foi o mais comum no mundo em 2022 e a principal causa de morte por cancro, seguido dos da mama e colorretal, alertou a Organização Mundial de Saúde (OMS), num encontro com a imprensa de antevisão ao Dia Mundial do Cancro que se assinalou a 04 de fevereiro.