Um dos principais parceiros internacionais da Guiné-Bissau, o projeto Ianda Guiné, apresentou hoje orientações para um plano nacional capaz de dar respostas básicas de saúde à população guineense em cinco anos.
Há mais de três décadas que o país africano tem um Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário, elaborado em 1992, que nunca saiu do papel, apesar da dificuldade de acesso e prestação de cuidados de saúde, como explicou à Lusa Vany Moreira, coordenador do Ianda Guiné-Saúde.
Nos últimos anos, o projeto Ianda (anda, em crioulo) dedicou-se a capacitar recursos humanos, a criar momentos de debate e a definir orientações para rever o plano e o resultado deste trabalho está a ser divulgado, na Conferência Nacional de Saúde, que começou hoje e termina na quinta-feira, em Bissau.
A conferência, segundo Vany Moreira, serve também para “ sensibilizar os atores da saúde, políticos e parceiros para acompanhar o Ministério da Saúde na aprovação deste documento a nível do Conselho de Ministros.
“Se o Ministério da Saúde, com os parceiros, olharem para o plano, vamos ter nos próximos cinco anos um sistema de saúde não completamente modificado, mas capaz de dar reposta básica na área da saúde para as pessoas na Guiné-Bissau”, afirmou.
O objetivo deste plano é “orientar o Ministério da Saúde na absorção de recursos financeiros para poder projetar melhor a prestação de cuidados no setor da saúde”.
O projeto Ianda Guiné trabalha em vários setores sociais e, no caso da Saúde, conta um financiamento de 44 milhões de euros da União Europeia, do Instituo Camões, que também é gestor, e da Fundação Calouste Gulbenkian.
A Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, a Fundação Calouste Gulbenkian e o Instituto de Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa são, também, parceiros que trabalharam com o Instituto Camões na implementação deste projeto.
Nos últimos anos, o Ianda Guiné-Saúde permitiu dar formação a mais de uma centena de médicos e outros profissionais da saúde, nomeadamente ligados à gestão.
O ministro da Saúde da Guiné-Bissau, Domingos Malu, presidiu à abertura da conferência e considerou que o plano “é um instrumento estratégico”, enquanto documento orientador da ação do Governo.
“Podemos pensar que estamos a trabalhar, mas se não tivermos um instrumento que baliza as nossas ações, se calhar podemos estar enganados”, declarou, mostrando empenho em levar o plano à aprovação do Conselho de Ministros para que possa ser operacionalizado.
O ministro vincou o propósito do Governo de duplicar o financiamento da saúde, com 15% do Orçamento Geral do Estado para este setor.
O governante apontou ainda a intenção do executivo de transformar o 03 de Agosto num hospital especializado, reunindo várias áreas da medicina, e adiantou que irá “enviar 111 médicos para especialização na Venezuela”.
“Também temos médicos noutras universidades a especializarem-se, portanto, não fazia sentido, quando voltarem, não ter um hospital especializado para trabalharem”, acrescentou.
Portugal é parceiro do projeto Ianda Guiné-Saúde e o embaixador português na Guiné-Bissau, José Caroço, considerou que a conferência nacional de saúde “é extraordinariamente importante porque vai permitir, através do estudo, reflexão, análise, dos principais atores do setor, estabelecer os documentos mais importantes orientadores da saúde” no país africano.
O embaixador salientou que “Portugal tem investido e cooperado, através da formação, mas também com meios materiais” e vê “com muito agrado que se possa dar uma coerência maior” ao trabalho que os diferentes parceiros realizam”.
“E que se possa prioritizar verdadeiramente quais são aquelas áreas a atender em primeiro lugar para melhor corresponder àquilo que são as políticas de saúde definidas na Guiné-Bissau em prol da melhoria da saúde da sua população”, sublinhou.