A secretária-geral adjunta da ONU, Amina Mohammed, disse hoje que espera um "novo compromisso" de todos os líderes mundiais rumo ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) acordados em 2015, admitindo "preocupação" com o atraso das metas.
Num 'briefing' de antevisão da Cimeira dos ODS e da semana de alto nível da 78.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas (UNGA 78, na sigla em inglês), que arranca na segunda-feira, Amina Mohammed disse que apenas 15% das metas estão no bom caminho para serem alcançadas
"É péssimo. É um facto preocupante, com enormes implicações para todos, e que abordaremos na Assembleia-Geral. E é um fracasso nosso no combate às desigualdades globais após uma crise planetária", disse a adjunta do secretário-geral da ONU António Guterres.
"E vemos mais divisões, vemos a igualdade de género a centenas de anos de distância, cada vez mais deslocamentos e instabilidade em todo o mundo. Mas a semana de alto nível é para mudar as coisas. Nós temos as ferramentas. O que precisamos é de muito mais determinação para essas soluções e colocá-las em prática", acrescentou.
Além de um maior investimento financeiro, Amina Mohammed espera alcançar durante a próxima semana um novo compromisso por parte de todos os líderes internacionais, que ficará consolidado numa "declaração de intenções realmente forte" que deverá ser aprovada já na segunda-feira.
Uma maior parceria com o setor privado é outro dos objetivos da ONU para a UNGA 78.
Também Achim Steiner, administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), esteve presente no 'briefing' em Nova Iorque, onde alertou que, apesar dos fracassos no alcance dos objetivos a que a comunidade internacional se propôs, não se pode ignorar o facto de que o mundo atravessou nos últimos anos uma série de dificuldades, como uma pandemia (covid-19) sem precedentes, guerras e conflitos e uma grave crise económica global.
Steiner disse acreditar que não está em causa um abandono dos ODS por parte dos países, tendo dado o exemplo do Brasil, onde o Presidente, Lula da Silva, acaba de "estabelecer uma nova comissão para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável".
"Os ODS não são os objetivos do mundo em desenvolvimento. Eles são propriedade igualitária e são uma obrigação para os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Na verdade, é a primeira vez na agenda de desenvolvimento que temos um compromisso tão universal com os ODS", destacou o administrador do PNUD.
Na visão de Steiner, "seria um erro de julgamento" dizer que os ODS estão a perder relevância.
"O desenvolvimento que queremos não é viável neste momento. Em vez disso, temos de aproveitar o crescimento que conseguirmos obter. E é nessa combinação entre o desenvolvimento sustentável, a Agenda 2030 [agenda que aborda as várias dimensões do desenvolvimento sustentável] e as duras realidades económicas e fiscais, que o futuro dos ODS se irá desenrolar. E a forma como nós, comunidade internacional, nos unimos será fundamental para que isso avance", frisou o representante, manifestando o seu otimismo e esperança para a semana de alto nível que se aproxima.
A secretária-geral adjunta da ONU admitiu igualmente estar "esperançosa", uma vez que tem assistido, "nos últimos tempos, a um envolvimento da comunidade internacional nos mais altos níveis com os ODS".
"Francamente, ter o G20 [as 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia] a debater e discutir o ano inteiro os ODS como um todo, onde estão na área da saúde, da educação, da economia, e sair com uma declaração que reforça um dos maiores desafios que temos, (...), isso dá-me alguma esperança", disse.
A Cimeira dos ODS, que terá lugar na 78.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, marca um ponto intermédio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável rumo a 2030.
No "contexto preocupante" de atraso nas metas dos ODS, segundo a ONU, a cimeira será uma oportunidade para todos os setores da sociedade acelerarem a ação.
Durante a semana de alto nível, o chamado Pavilhão dos ODS acolherá uma série de eventos centrados na procura de soluções justas e equitativas, que irão desde painéis de discussão, palestras e filmes, até performances artísticas.