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Novo dirigente do África CDC diz que escolha reconhece Moçambique

LUSA
31-07-2023 08:08h

O diretor-geral do Instituto Nacional de Saúde (INS) moçambicano, Eduardo Samo Gudo, reconheceu hoje que a sua eleição para presidente do conselho consultivo do África-CDC reconhece o país e os esforços do sistema de saúde público.

“Eu assumo isto não como um reconhecimento individual, mas como reconhecimento coletivo. Primeiro o reconhecimento para o país, porque eu estou inserido num sistema de saúde pública e os conhecimentos, habilidades e experiências que eu adquiri nesses meus 20 anos de carreira na área de saúde pública foi neste contexto de saúde pública, é neste contexto que ganhei toda a bagagem”, afirmou o especialista moçambicano, em entrevista à Lusa, na sede do INS, nos arredores de Maputo.

Na direção do conselho consultivo do Centro de Controlo de Doenças de África (África CDC), o especialista moçambicano terá Alex-Okoh, da Nigéria, como vice-presidente, e a sua eleição foi feita por unanimidade, este mês.

“Tem que ser o reconhecimento primeiro coletivo, a nível nacional, para Moçambique, e o segundo é um reconhecimento coletivo a nível institucional. Hoje eu sou o diretor-geral do INS de Moçambique e trabalho no INS, já assumi vários cargos ao longo de 20 anos. Então é também um reconhecimento para a instituição, porque foi essa instituição que me criou”, apontou.

Eduardo Samo Gudo é licenciado em medicina geral pela Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique (2003), doutorado em Imunopatogénese da infeção por Retrovírus Humanos pelo Instituto Oswaldo Cruz, Brasil (2012), e pós-doutorado júnior em doenças virais emergentes pelo European Foundation Initiative into African Neglected Tropical Diseases, Alemanha (2015), além de pós-doutorado sénior em doenças virais emergentes na mesma instituição.

“A maior parte da minha experiência em saúde pública foi adquirida nesta instituição. Então, é um reconhecimento do papel importante que o INS joga não só no contexto do sistema de saúde pública no país, mas, acima de tudo, na formação de especialistas em saúde pública que, com esta minha indicação, traz um prestígio que transcende o nível nacional, mas também a nível internacional”, reconheceu ainda.

Dirige desde março de 2023 o INS (diretor-geral adjunto de 2018 a 2022) e tem experiência em pesquisa nas áreas de microbiologia, doenças endémicas, doenças negligenciadas e emergentes, vigilância epidemiológica, inquéritos e imunologia, bem como vários artigos publicados internacionalmente.

“Presidir o conselho consultivo do África CDC é uma tarefa de grande responsabilidade. Estamos a falar do principal órgão de natureza científica a nível do continente africano, que tem um mandato importante de aconselhar os diferentes órgãos de outros órgãos de governação dos Estados-membros. De um modo geral o continente em matéria de saúde pública”, enfatizou Samo Gudo.

Partindo da experiência desenvolvida pelo África CDC, criado em 2017 pela União Africana, pouco mais de dois anos depois, com a pandemia de covid-19, na mobilização de testes, equipamentos laboratoriais, vacinas e na produção de recomendações, o novo presidente do conselho consultivo da instituição não tem dúvidas: “Passou no teste, não. Superou, superou a prova que podíamos querer para confirmar se valeu a pena criar uma agência e se ela também teria capacidades”.

“Muitas recomendações que o país [Moçambique] utilizou, que a nossa comissão técnico-científica utilizou, para poder aconselhar o Governo, foram com base nas recomendações emanadas pelo África CDC. Então, isto mostra a relevância que este conselho consultivo tem para a saúde pública a nível do continente. É que nós consumimos muitas recomendações do African CDC, que nos permitiu fazer uma gestão, eu diria boa, da pandemia da covid-19 no nosso país”, sublinhou.

Um cargo que assume também num momento em que a agência africana está em reestruturação das competências, ganhando maior autonomia e preponderância, “particularmente desafiante para esta agência de saúde pública africana”.

Criada pela União Africana “para promover os sistemas de preparação, prontidão de resposta e recuperação às emergências de saúde pública no continente”, Samo Gudo garante que o CDC África “já mostrou os seus créditos”, e foi elevada em março do ano passado a agência autónoma, por decisão dos chefes de Estado e de Governo africanos.

“Para dar mais autonomia para as ações na área de saúde pública”, explicou.

“Passa a ter a competência e o mandato de declarar emergências africanas de saúde pública. Nós conhecemos o contexto global, são as emergências de saúde pública de interesse internacional, e o África CDC passa a ter estatuto para o continente africano, consultada a Organização Mundial da Saúde. Porque é importante que esses dois órgãos trabalhem – e já trabalham - em estreita colaboração”, disse.

Ao conselho consultivo, órgão técnico, compete aconselhar o diretor-geral do África CDC, os ministros de Saúde dos países africanos e os Estados-membros em matéria de saúde pública: “Na sua diversidade, complexidade, multidisciplinaridade na área de saúde, incluindo aconselhar o diretor-geral da agência em relação à necessidade ou não de declarar esse tipo de emergências no continente. Então, é um momento particularmente importante da agência”.

“Sem tempo a perder”, logo após a eleição para o cargo, a nova presidência do conselho consultivo do África CDC já aprovou o novo Plano Estratégico da instituição para 2023 a 2027 e o novo regulamento interno: “Na primeiro reunião já houve uma agenda quente para discussão e foi uma discussão boa. Daqui em diante o que se segue é só trabalho”.

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