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Cerca de 600 moçambicanos precisam de cirurgia para tratar hidrocele num só distrito

LUSA
21-07-2023 09:26h

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSN) identificou num distrito da província moçambicana de Nampula 600 pessoas para serem submetidas a cirurgia para tratar hidrocele, complicação crónica da filaríase linfática, considerada doença tropical negligenciada, que provoca estigmatização social.

“Na última semana, os três primeiros pacientes foram submetidos a procedimentos cirúrgicos com sucesso”, indicou hoje fonte da MSN, que com este tratamento promete “transformar vidas” no norte de Moçambique, a zona mais afetada pela doença.

A ação resulta de uma colaboração daquela organização internacional com os Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Ação Social do distrito de Mogovolas e os Serviços Provinciais de Saúde de Nampula.

“Até a presente data, foram identificados cerca de 600 pacientes para serem submetidos a um procedimento cirúrgico em Nampula, antecedido de consultas médicas que incluem a avaliação da condição de saúde no geral. Este procedimento representa uma esperança de mudança de vida para pacientes que suportaram a dor e incapacidades, bem como a estigmatização social, associada à filariose linfática”, explicou a fonte.

A hidrocele afeta principalmente adultos acima de 45 anos e, não sendo uma condição maligna, consiste no “acúmulo anormal de líquido ao redor dos testículos, que causa o aumento de escroto”, e “potencialmente levando à incapacidade física e afetando a qualidade de vida do paciente”.

“A iniciativa de tratamento cirúrgico faz parte dos esforços da MSF para reforçar a capacidade do sistema nacional de saúde em Moçambique na prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças tropicais negligenciadas, como no caso de filaríase linfática, bilharziose e sarna, bem como doenças transmitidas por vetores e água. Estas doenças são altamente prevalentes e agravadas por condições climáticas extremas”, explicação a organização.

Neste tratamento, as equipas da MSF levam em geral uma hora a proceder à cirurgia, em regime de ambulatório: “Os pacientes vão necessitar de hospitalização de curta duração devido à distância do hospital às suas casas, e receberão consultas semanais de acompanhamento após a alta. A MSF vai fornecer apoio em cuidados gerais de saúde aos pacientes até que eles estejam recuperados”, garante a organização.

Os pacientes para possível tratamento são inicialmente identificados ao nível da comunidade pelos Agentes Polivalentes Elementares ou a partir das unidades sanitárias locais, onde são submetidos a análises clínicas para confirmar a presença de hidrocele e garantir a elegibilidade para a fase de rastreio cirúrgico.

Logo depois, os pacientes são transportados para o Hospital Geral de Marrere, em Nampula, onde um anestesista os submete a um novo rastreio antes da cirurgia, explica ainda a MSF.

Segundo a coordenadora do projeto, Zélie Antier, a iniciativa cirúrgica vai aumentar “a conscientização sobre a filaríase linfática”, bem como outras doenças tropicais negligenciadas, “e facilita a partilha de conhecimento na província com base na experiência da MSF, levando a melhores medidas futuras de tratamento e controlo” destas doenças.

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