Um programa de intervenção psicológica focado na compaixão, aplicado em casas de acolhimento residencial para crianças e jovens localizadas na região Centro, revelou ter impacto positivo na relação daqueles com os seus cuidadores.
O estudo, desenvolvido por uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC), teve como objetivo testar o efeito do programa denominado Treino de Mente Compassiva para Cuidadores, anunciou hoje aquela instituição de ensino superior.
“Revelou ser eficaz para potenciar o relacionamento compassivo entre jovens e cuidadores (como educadores, psicólogos e assistentes sociais), contribuindo, assim, para a segurança emocional dos jovens e para comportamentos de suporte entre a equipa de profissionais”, referiu a UC em nota de imprensa enviada à agência Lusa.
O programa foi aplicado às relações estabelecidas entre cuidadores e jovens e no clima emocional das casas de acolhimento residencial, promovendo, em simultâneo, a qualidade de vida dos jovens e dos seus cuidadores.
“Um ambiente acolhedor, afiliativo e seguro é um pré-requisito para a criação de ambientes terapêuticos e para melhores resultados nas casas de acolhimento, podendo otimizar as intervenções psicológicas individualizadas oferecidas às crianças e jovens, e facilitar a mudança de perceção que as mesmas poderão ter vindo a desenvolver ao longo da vida sobre si, os outros e o mundo”, destacou, citada na nota, a psicóloga clínica e primeira autora do estudo, Laura Santos.
A também investigadora do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC) afirmou que o “impacto positivo” do programa de treino revelou-se em três níveis: “ao nível individual, no desenvolvimento de (auto)compaixão e melhorias na qualidade de vida profissional e saúde mental dos cuidadores; ao nível interpessoal, contribuindo para uma maior proximidade e ligação entre cuidadores e jovens, bem como entre colaboradores; e também ao nível organizacional, contribuindo para um ambiente mais afiliativo e seguro na casa de acolhimento, tanto para jovens, como para cuidadores”.
Durante a intervenção, os investigadores desenvolveram atividades com os cuidadores “para lhes transmitir, por exemplo, estratégias adaptativas de regulação emocional e conhecimentos sobre o funcionamento da mente humana”.
A pesquisa tem vindo a ser realizada no âmbito do doutoramento de Laura Santos, orientado pelos docentes da FPCEUC e investigadores do CINEICC, Daniel Rijo e Maria do Rosário Pinheiro, um projeto pensado com o objetivo de “disponibilizar às casas de acolhimento um programa de treino baseado num modelo teórico e com evidência empírica, respondendo à necessidade reportada na literatura ao nível da qualificação dos profissionais deste setor social”.
“A promoção de uma mentalidade afiliativa, operacionalizada através do desenvolvimento da compaixão, pretende ampliar o foco de atuação das casas de acolhimento, frequentemente criticadas por se direcionarem exclusivamente para a proteção da criança através da provisão assistencialista de recursos (como abrigo, refeição, higiene e educação), no sentido da promoção de um ambiente seguro (…) necessário à recuperação psicológica das crianças e jovens que ali residem”, contextualizou.
O ensaio clínico realizado no âmbito do projeto decorreu em 12 casas de acolhimento da região Centro de Portugal, tendo envolvido 127 cuidadores e 154 jovens.