O Observatório do Cidadão para a Saúde (OCS), organização não-governamental (ONG) moçambicana, denunciou hoje cobranças ilícitas e maus-tratos nos hospitais de Maputo, devido a uma alegada “greve silenciosa” dos profissionais da saúde.
O OCS assinala que constatou situações de “mau atendimento, longas filas de espera e desrespeito dos direitos do utente”, durante visitas que ativistas da ONG realizaram a algumas unidades de saúde da capital moçambicana.
Uma grávida relatou que tem permanecido entre 12 e 13 horas, quando vai a consulta pré-natal, num hospital de Maputo, devido à lentidão no atendimento.
Por outro lado, segundo a gestante citada pela ONG, há médicos e enfermeiros que não têm ido trabalhar, o que faz com que um profissional que se apresenta ao serviço tenha de atender, no mínimo, 50 gestantes.
As grávidas só são recebidas para consulta pré-natal mediante pagamento de suborno, acrescenta o OCS.
Uma outra gestante avançou aos ativistas da ONG que os profissionais da saúde emitem guias para que as gestantes façam ecografia em instituições privadas, o que indicia um esquema de corrupção.
“Fui obrigada a recorrer a uma clínica privada, onde paguei 1.500 meticais [21,5 euros] para fazer ecografia. Ao invés de me darem uma guia para um hospital público, onde poderia fazer o mesmo exame a custo zero”, queixou-se a mulher, que não quis ser identificada.
“Acredito que o enfermeiro ganha uma parte do dinheiro que pagamos na clínica privada”, acusou.
Uma outra grávida também contou ter passado pela mesma situação, assinalando que a prática se assemelha a uma “privatização não declarada do Serviço Nacional de Saúde”.
O OCS criticou a ineficiência dos serviços de urgência nos hospitais de Maputo, levando a que “doentes debilitados” tenham de cumprir longas filas, mesmo “se contorcendo de dores”.
Aquela ONG diz ter verificado situações em que os profissionais de saúde “ficam a conversar”, mesmo havendo doentes a precisar de tratamento.
As unidades de saúde visitadas, prossegue-se no texto, também enfrentam uma grave crise de medicamentos.
Os ativistas do OCS dizem ter encontrado uma unidade de saúde dos subúrbios de Maputo totalmente às escuras, porque a instalação elétrica tinha avariado, na sequência de um incêndio provocado por fogo ateado para matar uma cobra num matagal próximo do hospital.
A Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM) convocou uma greve no dia 01 de junho, mas suspendeu a paralisação por duas vezes, após algumas conversações com o Governo, que tem um prazo de 60 dias para resolver, pelo menos, uma parte das inquietações dos profissionais de saúde.
No final do último ano, outra organização, a Associação Médica de Moçambique (AMM), realizou uma greve de 19 dias, alcançando acordos com o Governo nalguns pontos do caderno reivindicativo.
Os profissionais contestam erros de enquadramento na nova Tabela Salarial Única (TSU) e queixam-se de más condições de trabalho, falta de luvas, soro, entre outros materiais.
A Lusa contactou o Ministério da Saúde de Moçambique sobre as alegações feitas pelo OCS, mas não obteve resposta.