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Moçambique produz a maioria de toda a investigação em ciências da saúde nos PALOP

LUSA
26-09-2022 09:00h

Moçambique produz 70% de toda a investigação em ciências da saúde nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), onde esta atividade aumentou, coincidindo a pesquisa com as patologias que mais afetam estes estados, revela hoje um estudo inédito.

O MAPIS - Mapeamento da Investigação e Financiamento das Ciências da Saúde em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, a que a agência Lusa teve acesso, foi encomendado pela Fundação Gulbenkian e analisa a evolução da produção científica internacional em ciências da saúde nestes países, entre 2008 e 2020, as redes de colaboração e as fontes de financiamento.

Para tal, foram identificadas as publicações científicas na área das ciências da saúde em revistas internacionais amplamente reconhecidas, publicadas entre 2008 e 2020, com a participação de investigadores afiliados a instituições destes países.

De acordo com as conclusões do documento, registou-se “um aumento significativo na investigação em ciências da saúde nestes países, em especial durante a última década”, sendo o nível de publicação “especialmente significativo” em Moçambique.

Esta evolução é igualmente positiva nos outros países, embora São Tomé e Príncipe registe uma atividade científica “muito limitada”.

Angola apresentou “uma atividade científica inferior ao esperado”, mas com “um crescimento constante na produção e institucionalização da investigação ao longo dos últimos anos”.

Além de Moçambique, que contabiliza 70% de toda a investigação dos PALOP, também a Guiné-Bissau apresenta “um impacto relativamente elevado de citação”.

Moçambique é igualmente referido como tendo sido “cada vez mais bem-sucedido na obtenção de financiamento externo e na liderança de propostas internacionais de investigação”.

Sobre os temas abordados pelos investigadores nos diferentes países, o estudo apurou que “os padrões de especialização refletem os padrões de incidência local de várias doenças”.

Em todos os PALOP, as áreas de investigação mais prolíficas são a malária, VIH, mortalidade materna, tuberculose e sarampo, doenças que nestes países têm uma incidência mais elevada em relação à média mundial.

“Em Moçambique, a relevância de doenças como o VIH ou a malária reflete-se nos tópicos mais abordados na investigação local, enquanto que, em Angola ou na Guiné-Bissau, surgem outros tópicos, tais como os relacionados com a parasitose (em Angola) ou com o sarampo (na Guiné-Bissau)”, lê-se no documento.

Em Moçambique e na Guiné-Bissau, indica-se no MAPIS, “a investigação realizada nestas áreas conta com mais citações do que a média mundial, o que resulta, previsivelmente, do pequeno grupo de investigadores que colaboram frequentemente com coautores internacionais de renome que participam em grandes projetos de investigação”.

“Estes resultados, juntamente com o facto de grande parte da investigação ser realizada em associação com hospitais, também parecem revelar que a investigação em ciências da saúde é desenvolvida em articulação relevante com o setor da saúde, tendo em conta as necessidades concretas de saúde das populações locais”, prosseguem os autores do estudo.

Relativamente à colaboração com que os investigadores em ciências da saúde nos PALOP contam, no estudo refere-se que, “embora Portugal seja um parceiro importante, não é o parceiro mais importante em Moçambique ou na Guiné-Bissau, onde os Estados Unidos e a Dinamarca assumem, respetivamente, essa posição”.

Moçambique colabora mais frequentemente com os Estados Unidos e parceiros espanhóis, enquanto Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe com pares portugueses e a Guiné-Bissau com dinamarqueses.

Existem poucas colaborações entre os PALOP, o que revela que as ligações linguísticas são “menos fortes, num processo dinâmico de internacionalização”.

A este propósito, os autores recomendam o apoio a programas de intercâmbio e mentoria entre os PALOP.

O MAPIS analisou ainda o financiamento em publicações científicas com autores dos PALOP e identificou “a intervenção de um número significativo de agências de financiamento, com um aumento muito considerável”, nos últimos anos, do apoio por parte da Fundação Gates, juntamente com o Instituto Nacional de Saúde norte-americano e a Comissão Europeia.

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