SAÚDE QUE SE VÊ

“Apesar do desdobramento dos serviços, houve muitas necessidades de saúde que ficaram por satisfazer. “– afirma Diretora-executiva do ACES Lisboa Norte  

CANAL S+ / VD
12-03-2021 21:27h

O balanço apresentado por Eunice Carrapiço surge um ano depois da chegada dos primeiros casos de COVID-19 a Portugal. A diretora-executiva do ACES Lisboa Norte, que engloba oito freguesias da capital, afirma em entrevista ao Canal S+ que “apesar do desdobramento dos serviços, houve necessidades de saúde que ficaram por satisfazer”.

Com o desconfinamento, que arranca já na segunda-feira, Eunice Carrapiço não consegue prever quanto tempo vai demorar a recuperar toda a atividade assistencial e programada que teve de ser adiada, mas recorda que o desafio que a pandemia colocou aos cuidados de saúde primários (CSP) foi “muito complexo” e surgiu em “diversas frentes”. Se por um lado, “muitas pessoas se retraíram a ir aos hospitais”, por outro “ocorreram transformações nos serviços de saúde (…) que, de outra forma, levariam anos a acontecer”, remata.

“Sem dúvida que há muitos estragos. O que é exigido aos serviços de saúde é complexo”, admite a responsável que sublinha ainda que “Há todo um outro sofrimento, físico e psicológico, que foram agravados com a pandemia.”

Nesta entrevista ao Canal S+, a diretora-executiva do ACES de Lisboa Norte concluiu que “foi um ano muito angustiante para todos, em especial para os serviços de saúde”, mas não esquece a resiliência, o esforço e a capacidade de resposta que muitos centros de saúde, para além dos hospitais, conseguiram dar. “Tivemos de nos adaptar muito rapidamente. Implementamos medidas baseadas em normas da DGS num fim de semana”, recorda.

Em retrospetiva, a diretora-executiva do ACES de Lisboa Norte garante que “o grande desafio foi como é que nós conseguíamos cuidados de saúde primários, dar continuidade a atividades centrais nos CSP e ao mesmo tempo ir para a linha da frente no combate à pandemia”, sublinha.

Perante a crise pandémica, os cuidados de saúde primários através dos centros de saúde e ACES tiveram de criar áreas dedicadas para doentes respiratórios (ADR), desenvolver toda a atividade de rastreio epidemiológico com o sistema Trace Covid-19 e criar equipas mistas para percorrerem as áreas mais afetadas com o intuito de esclarecerem e ajudarem as populações atingidas pela doença.

No pico da segunda vaga, em janeiro, as equipas Trace Covid-19 chegaram a seguir cerca de 7000 pessoas infetadas.

Eunice Carrapiço explica que as equipas mistas, um projeto desenvolvido em parceria com a autarquia de Lisboa, a proteção civil, o ACES Lisboa Norte e o Hospital de Santa Maria, “fizeram centenas de milhares de visitas em toda a região de saúde”.

Para além de informarem os cidadãos, as equipas mistas fizeram levantamento de necessidades, mobilizaram recursos e conseguiram também encaminhar muitos doentes ligeiros para os seus centros de saúde da área de residência, em vez de irem diretamente para os serviços de urgência dos hospitais, já de si bastante procurados.

A segunda vaga da pandemia que atingiu de forma avassaladora, em janeiro, a região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) pressionou os serviços de saúde até níveis muito pouco habituais, mas Eunice Carrapiço prefere assinalar que “fomos o primeiro centro de saúde do país a avançar com a vacinação em Alvalade”.

A diretora-executiva do ACES de Lisboa Norte explica que recorreram, nesse dia, ao projeto piloto que permite a convocatória dos doentes através de um SMS automático, mas, de seguida, optaram por contactar todas as pessoas por telefone, recorrendo ao secretário clínico.

A responsável lembra que todas as convocatórias para vacinação contra a COVID-19, por via SMS, têm sempre como origem o remetente 2424.   

Ao S+, Eunice Carrapiço confessa uma enorme satisfação pelo processo de vacinação contra a COVID-19, em Lisboa, já estar a decorrer em centros descentralizados. É o caso do centro de vacinação em São Domingos de Benfica ou o que se encontra no templo da Comunidade Hindu, em Telheiras.

Apesar da escassez das vacinas, a diretora-executiva do ACES de Lisboa Norte afirma “É uma grande emoção esta fase, ao vermos as pessoas com mais de 90 e até de 100 anos a dirigirem-se aos locais onde vão ser vacinados. “

Para Eunice Carrapiço, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que está a ser preparado pelo Governo vai dar uma resposta robusta a muitos problemas do sector da saúde.

A diretora-executiva do ACES de Lisboa Norte acredita que “todo esse esforço de investimento vai ser mantido”.

Uma das críticas recorrentes dos médicos e enfermeiros de família durante a pandemia deveu-se ao facto de terem de se “desdobrar” no acompanhamento dos seus doentes habituais, integrar as áreas dedicadas para doentes respiratórios (ADR) e em alguns casos participar nos rastreios de Trace COVID.

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