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Utentes da Unidade de Alcoologia temem fecho do internamento mas ARSLVT garante reabertura

LUSA
07-08-2020 10:30h

Utentes da Unidade de Alcoologia de Lisboa temem que o serviço de internamento encerrado desde março devido à pandemia não reabra por falta de profissionais, mas as autoridades asseguram que está a ser ultimado “um modelo de reabertura”.

Vários utentes manifestaram à agência Lusa a sua preocupação com o futuro do serviço de internamento da Unidade de Alcoologia, o único serviço gratuito que contempla um internamento de 28 dias e um programa de acompanhamento psicoterapêutico, e apelam às autoridades de saúde para não o integrarem na Unidade de Desintoxicação das Taipas.

“A informação que tenho é que com a pandemia" está apenas previsto a reabertura do centro das Taipas, que também funciona no Parque da Saúde de Lisboa, para onde vão ser transferidos uma grande parte dos auxiliares e enfermeiros, disse Paulo Inácio, explicando que são "mais-valias completamente diferentes”.

Para outro utente, Bruno Rego, se tal acontecer é “uma decisão contracorrente” numa altura em que os problemas de álcool se agravaram.

“Com esta pandemia, quem bebia uns copos, já está a beber garrafões porque as pessoas ficam fechadas em casa, têm de lidar com os ‘lay-off’, com os despedimentos, e as que já bebiam vão vingar-se no álcool porque isto é assim”, disse Bruno Rego.

Já para Fernando S. a Unidade de Alcoologia é “um porto seguro” para “um número cada vez mais crescente de alcoólicos em Portugal, perto de 600 mil”, que não se pode perder.

Jorge, 50 anos, recordou, por seu turno, que “já houve alguma tentativa no passado de acabar com o internamento” e utilizar os seus recursos noutras unidades para concentrar serviços, o que “mais uma vez está a acontecer”.

Contactada pela Lusa, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) afirmou que se aguarda para “muito breve” um modelo de reabertura que torne possível realizar o necessário período de quarentena para os utentes da Unidade de Alcoologia de Lisboa e do Centro das Taipas, unidades destinadas, respetivamente, à desintoxicação do álcool, e à desintoxicação de substâncias psicoativas, incluindo o álcool.

“Assumindo-se a necessidade premente da retoma dos internamentos, quer considerando o número de utentes em lista de espera, quer pela vontade expressa dos profissionais destas duas equipas em retomar a atividade clínica dos internamentos, aguarda-se para muito breve a implementação deste modelo de reabertura”, sublinha.

Segundo a ARSLVT, este modelo terá “o consenso médico e clínico necessário, bem como a criação de todas as condições”, ao nível das instalações e de equipamentos de proteção Individual, para garantir “as boas práticas clínicas e a segurança dos utentes e dos profissionais de saúde”.

Sublinha ainda “a complexidade da construção deste modelo”, uma vez que a grande maioria destes utentes sofre de comorbilidades psiquiátricas e de outras doenças graves, como doença pulmonar obstrutiva crónica, cirrose hepática, doenças cardiovasculares.

O encerramento dos internamentos nas duas unidades ocorreu a 14 de março por não reunirem as condições que permitem garantir as boas práticas clínicas aos doentes a internar, sobretudo no que respeita à capacidade de realização da quarentena de 14 dias.

Contudo, o encerramento só se efetivou quando “todos os doentes então internados tiveram alta clínica, não tendo sido por isso interrompido qualquer programa de tratamento”, o que não houve foi novas admissões.

“Apesar dos constrangimentos decorrentes da pandemia” foi mantido o serviço de consulta em ambulatório, embora mais reduzido, segundo as orientações da Direção-Geral da Saúde, e montado um sistema de atendimento em teleconsulta individual e de grupos de apoio à prevenção da recaída através de plataformas online.

Nas situações em que a avaliação clínica assim o justificava foi sempre realizado o atendimento presencial.

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