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Quebra na vacinação durante pandemia deve-se sobretudo a adultos e adolescentes

LUSA
03-06-2020 17:27h

A coordenadora da equipa do Plano Nacional de Vacinação (PNV) esclareceu hoje que a maior parte da quebra registada no número de vacinas administradas nos meses atingidos pela pandemia da covid-19 "tem a ver com a vacinação de adultos e adolescentes".

Teresa Fernandes, que falava a agência Lusa após terem sido divulgados dados do Portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS), desvalorizou que o número de vacinas administradas em maio tenha caído mais de 40% em comparação com igual mês de 2019, observando que os dados deste ano não abrangem todo o mês de maio, estando incompletos.

A mesma responsável admitiu, contudo, que devido à pandemia os números da vacinação sofreram uma queda, mas vincou que o problema não está tanto na vacinação das crianças até aos 18 meses, mas nas crianças de 5 anos e sobretudo nos adultos e adolescentes, os quais não causa problema adiar um ou dois meses vacinas a administração de vacinas para aquela faixa etária que tem uma validade que chega aos 10 anos.

De todo o modo, e independentemente da leitura dos dados hoje divulgados, a coordenadora da equipa do PNV destacou que desde o início de maio está a ser regularizado o processo de vacinação junto dos centros de saúde de todo o país, apelando para que as pessoas em falta façam a marcação por telefone ou email junto do respetivo centro para tomarem a vacina.

A responsável reconheceu que alguns centros de saúde possam estar "mais limitados" no atendimento, em virtude de eventuais focos de covid-19 na mesma zona, aproveitando para salientar que a vacinação e os cuidados primários nos centros de saúde têm atendimento separado dos casos de covid-19. Além disso, estão em curso medidas de higienização e proteção individual nesses espaços.

Quanto à quebra acentuada no número de vacinações em período covid-19, Teresa Fernandes admitiu também que tal descida poderá ter resultado do facto de as pessoas, com medo de se deslocarem aos centros de saúde durante a pandemia, tenham, muitas delas e sobretudo em Lisboa, adquirido vacinas de venda livre nas farmácias e as tenham administrado através de instituições privadas, razão pela qual ainda não terá havido o cruzamento final dos dados sobre a vacinação dos portugueses.

Segundo a mesma responsável, durante a pandemia muitas pessoas podem ter entendido que era "mais seguro irem ao privado" para lhes ser administrado uma vacina, podendo daí resultar "algum atraso nos registos do Sistema Central de Vacinação" em termos de contabilização.

A coordenadora do PNV do SNS garantiu ainda à Lusa que está "tudo encaminhado" para que os índices de vacinação voltem aos normais e apelou a todos os portugueses que insistam e façam quanto antes a marcação para serem vacinados nos centros de saúde, onde houve "reforço das linhas telefónicas" para o efeito.

Entretanto, o número de vacinas administradas em maio caiu mais de 40% em comparação com o mesmo mês de 2019, fixando-se em 300.693, segundo os dados do Portal do SNS.

Os dados, atualizados até ao passado dia 27, indicam que em maio de 2019 tinham sido administradas 519.234 vacinas.

A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) foi a que registou maior número de vacinas administradas (111.262), seguida pela ARS Norte (111.013), ARS Centro (49.285), ARS Algarve (15.054) e ARS Alentejo (14.079).

Comparando com o mês de abril (395.416), em maio o número de vacinas administradas caiu quase 24%.

As autoridades de saúde já tinham alertado para a importância de não descurar o Programa Nacional de Vacinação, sobretudo nesta altura de pandemia da covid-19, lembrando que as vacinas previstas para o primeiro ano de vida conferem proteção contra 11 doenças potencialmente graves.

Por ocasião do Dia Mundial da Criança, na passada segunda-feira, a diretora-geral da Saúde voltou a apelar aos pais para que vacinem os filhos, utilizem as consultas de vigilância e realizem o teste do pezinho aos recém-nascidos.

Numa nota publicada em abril, e perante a necessidade de adotar medidas de caráter excecional e temporário para prevenção da transmissão da infeção por covid-19, a Direção Geral da Saúde (DGS) definiu como prioritária a vacinação recomendada no primeiro ano de vida, sublinhando que “aos 12 meses, as vacinas contra o meningococo C e contra o sarampo, papeira e rubéola são muito importantes”.

Dados divulgados no final de abril indicavam que uma em cada 10 crianças com 13 meses de idade em Portugal não tinham no final do ano passado qualquer vacina contra o sarampo.

O relatório do Programa Nacional de Vacinação, que avalia o cumprimento do PNV em 2019, diz que aos 13 meses de idade, 14% das crianças ainda não tinham iniciado a vacinação contra o sarampo nem contra a doença invasiva meningocócica do grupo C, que devem ser administradas aos 12 meses.

“Este facto coloca as crianças desta idade em risco de surtos de sarampo, se contactarem com casos, uma vez que estão, na sua maioria, juntas em creches, sem beneficiarem da imunidade de grupo, conferida a partir de uma cobertura de 95%”, alerta o documento.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já tinha avisado que as campanhas de vacinação não podiam ser postas em risco pela pandemia de covid-19, sublinhando que doenças como a poliomielite ou o sarampo podem ressurgir.

A UNICEF e a OMS voltaram a alertar na semana passada para o impacto da interrupção na administração de vacinas, devido à covid-19, colocando em risco milhões de crianças em todo o mundo.

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