SAÚDE QUE SE VÊ

DIA DO PAI

Sou uma pessoa de efemérides. Uma entusiasta confessa e assumida de todas as datas que merecem ser celebradas. E nem me refiro à perspetiva comercial da coisa mas ao facto de achar que devemos agrader tudo o que de bom temos na nossa vida. Também acho que todos os dias são bons pelo simples facto de ter saúde e de os poder apreciar. Com as pessoas que amo é a mesma coisa. Tenho um pai todos os dias. Mas dia do pai só tenho um uma vez por ano!
Em circunstâncias normais, a esta hora estaria a preparar-me para desligar o computador, apanhar as crianças na escola, e ir a voar para casa do meu. Sei que já estaria de volta do fogão a preparar um daqueles pratos que adoro e que iria dormir com uma garrafa de água com gás na mesa de cabeceira. Também sei que na mochila do mais novo viria com um miminho feito na sala de aula. Mais um daqueles presentes que nunca entendi muito bem para que servem nem, onde raios, enfiaria mais um parasol de cartão ou uma lata forrada a molas, para meter as canetas, lá no escritório. Perdoem-me a franqueza.
Ao abrir as redes sociais, percebi que o mundo, tal como o conhecemos até hoje, mudou. As habituais fotografias com os pais, presentes ou já ausentes, continuam mas, desta vez, há uma nostalgia e saudades comuns porque não os temos por perto. As declarações de amor são todas acompanhadas por um “não estamos juntos mas é por um bem maior”. Neste caso, o bem de podermos, de futuro, celebrar este dia juntos, num abraço breve ou num jantar que acaba a água com gás.
Hoje não há perto. Mas há, talvez, uma vontade maior de estar. De ser filho. Damos tudo por garantido até ao dia em que queremos e não podemos. Como é o caso. Que isto nos faça pensar. Que isto nos torne seres humanos mais empáticos. Mais humanos. Melhores. Que não nos esqueçamos disto quando voltarmos às nossas vidas. Já falei com o meu pai. Como falo todos os dias. Com ou sem isolamento. Nunca dou estes momentos por garantidos. Deve ser por isso que gosto tanto de efemérides.
Aproveito este espaço para deixar um abraço aos pais que, hoje, não estão junto dos filhos porque estão a trabalhar. Especialmente a todos os profissionais de saúde que estão a cuidar das vidas de outros pais. E ao pai dos meus filhos que, hoje, têm a sorte de o poder ter por perto e que não vão adiar os abraços que ele merece. Todos os dias.