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Satisfação e estabilidade são chave para reter médicos no SNS - estudo

LUSA
16-12-2025 18:26h

A retenção de médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) depende da satisfação com o trabalho, estabilidade de horários e reconhecimento profissional, defende um estudo de investigadores da Universidade Nova de Lisboa.

O estudo, realizado entre julho e outubro de 2024 com um universo de 1.398 médicos e publicado no European Journal of Public Health, sublinha que os médicos com mais de 10 anos de serviço têm maior intenção de permanecer no SNS do que os em início de carreira.

Em declarações à agência Lusa, o coautor do estudo, Tiago Correia, explicou que os profissionais de saúde com horários fixos revelam maior satisfação do que os que trabalham por turnos, ainda que os horários fixos sejam inviáveis em muitos serviços.

“É importante assegurar lógicas de previsibilidade e de descanso que compensem o facto de os profissionais sentirem um grande desgaste por um trabalho por turnos que está associado a uma grande intensidade”, salientou o professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT NOVA).

O coordenador do Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde para Políticas e Planeamento da Força de Trabalho em Saúde adiantou que “o ‘burnout’ e a exaustão extrema” também estão associados à intenção de saída do SNS, acrescentando que os mais jovens são os mais difíceis de reter, valorizando a conciliação entre vida familiar e trabalho.

O investigador chamou ainda a atenção para as carreiras do SNS, que estão “pensadas com paradigmas antigos” e “sem serem revistas” desde 2009.

“Quando falo de revisão de carreiras não falo apenas em atualizações salariais. (…) O que me parece claro, por estes resultados e por aquilo que empiricamente quem trabalha na área da saúde sente ou quem tem profissionais de saúde conhecidos, é que os profissionais estão muito descontentes com o modo como o trabalho está organizado”, afirmou.

De acordo com o investigador, a falta de revisão estrutural tem alimentado a “fuga de cérebros”, com médicos a procurar melhores condições em países que oferecem salários competitivos, reconhecimento e tempo para formação.

“Aqueles [países] que mais precisam e que têm capacidade de aumentar condições salariais e boas condições de trabalho acabam por reter profissionais de outros países e originar processos migratórios”, reconheceu, lembrando a troca do setor público pelo privado.

Para os autores do estudo, Tiago Correia, Raquel Osório e Rita Morais, a retenção de médicos passa por valorizar o trabalho clínico, assegurar condições de descanso e investir em carreiras que respondam às expectativas das novas gerações.

No início do mês, um estudo direcionado aos enfermeiros concluiu que os horários fixos e a conciliação da vida familiar e laboral pesam mais do que os salários na decisão destes profissionais de permanecerem no SNS.

As conclusões publicadas no European Journal of Public Health indicam que médicos com horários fixos revelam maior intenção de permanecer no SNS do que os que trabalham em regime rotativo.

Os resultados destacam a importância de ter estratégias integradas de retenção dos profissionais que combinem “melhorias organizacionais, planos de progressão na carreira e políticas de equilíbrio entre vida profissional e pessoal”.

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