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Autarca de Bragança culpa Governo por diminuição de médicos internos na ULSNE

Lusa
16-12-2025 16:01h

A presidente da Câmara de Bragança mostrou-se preocupada com o decrescente número de médicos internos a fazer formação na Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE), confirmado hoje pela ULSNE, e culpou o Governo, por abrir mais vagas no Litoral.

A Unidade Local de Saúde do Nordeste disponibiliza 46 vagas para médicos internos, jovens que terminam o curso de Medicina e fazem formação nos hospitais, mas apenas 11 ficaram ocupadas para 2026.

Em declarações à Lusa, a presidente da Câmara de Bragança, Isabel Ferreira, atribuiu as culpas ao Governo, por ter “aumentado o número de vagas nos hospitais centrais e esse aumento diminui as preferências desses médicos por hospitais mais periféricos”.

“Quando se permitem mais vagas nos hospitais centrais, quando não se abrem apenas vagas para estes hospitais [do Interior], há depois este efeito e ao termos poucos médicos internos aqui, depois também acabam por não escolher especialidades daqui”, criticou a autarca.

A ULSNE confirmou hoje à Lusa que o número de médicos internos a fazer formação geral nesta instituição tem vindo a decrescer, avançando que, em 2024, foram 38 e este ano foram apenas 26, e para o próximo ano serão 11.

A Unidade Local de Saúde do Nordeste esclareceu ainda que “a atribuição e gestão do número de vagas a nível nacional é da exclusiva competência da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS)”, um instituto público integrado na administração indireta do Estado e com a tutela do Ministério da Saúde.

De acordo com os mapas de vagas atribuídas a cada unidade local de saúde, à qual a Lusa teve acesso, é possível verificar um aumento de vagas entre 2025 e 2026.

Em 2025, o número de vagas no país foi de 2.199, 742 nas unidades de saúde locais do Norte, 396 no Centro, 725 na Área Metropolitana de Lisboa e Vale do Tejo, 96 no Alentejo, 134 no Algarve, 66 na Região Autónoma dos Açores e 40 na Região Autónoma da Madeira.

Para o próximo ano, há um aumento de 176 vagas, distribuídas pelas unidades locais de saúde do Norte (+118), do Centro (+32) e da Área Metropolitana de Lisboa e Vale do Tejo (+25) e do Algarve (+1).

O maior aumento verificou-se nas instituições do Norte, onde praticamente todas as unidades locais receberam mais vagas, destacando-se Braga, Alto Ave, São António e São João. Apenas a ULS do Nordeste e a de Trás-os-Montes e Alto Douro não sofreram alterações, sendo que a de Gaia/Espinho perdeu uma vaga.

Isabel Ferreira, para quem esta medida é uma “opção política”, reclamou “medidas de incentivo positivo” para o Interior, caso contrário será “muito difícil reverter qualquer situação de desequilíbrio entre o Litoral e o Interior”.

“Isto é um problema profundo e eu entendo que os hospitais centrais têm muita pressão de pessoas que precisam desses serviços, por isso, é um equilíbrio difícil de gerir, mas é preciso olhar de ambos os pontos de vista. Olhar da perspetiva do Interior, que depois fica penalizado, porque qualquer efeito que se faz de aumento de vagas no Litoral prejudica a escolha dos territórios do interior”, criticou, defendendo que “se há aumento de vagas em determinadas formações, que fossem exclusivamente nos territórios do Interior”.

Por outro lado, confrontada com a oferta de especialidades limitadas na região, Isabel Ferreira rematou dizendo que “os hospitais do Interior também estão preparados para os formar [médicos internos] e para lhes dar especialidades”, e que ao fazerem a formação em Bragança mais hipóteses existem de ficarem a exercer na região.

Também a Unidade Local de Saúde do Nordeste, que integra três hospitais - Bragança, Mirandela e Macedo de Cavaleiros - salientou que “está particularmente focada em criar condições clínicas, de trabalho e pedagógicas que tornem atrativo para os licenciados em Medicina escolherem o distrito de Bragança” e defendeu que esta diminuição “deverá ser analisada pelas entidades competentes”.

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