Mais de 2.400 pessoas já assinaram a petição em protesto pela alteração dos critérios de acesso ao internato médico, considerando que a introdução da “média normalizada” para efeitos de seriação discrimina candidatos.
Numa nota explicativa enviada à Lusa, os promotores da iniciativa pedem a suspensão imediata ou a revogação da contabilização da média normalizada, que dizem não corrigir as “profundas diferenças” entre escolas médicas, ignorando que algumas faculdades impedem melhorias de nota ou têm métodos de avaliação subjetivos e distintos (como avaliações orais ou por blocos).
A média normalizada tem um peso de 20% na classificação ponderada total dos candidatos, sendo os restantes 80% referentes à nota obtida na Prova Nacional de Acesso (PNA).
Defendem que o acesso se deve basear “em critérios de igualdade, justiça e democracia” e “não em fórmulas matemáticas com princípios heterogéneos que discriminam candidatos com base na faculdade de origem ou no ano de conclusão do curso”.
Segundo este grupo de médicos, a atual fórmula permite que candidatos com melhor nota na PNA sejam ultrapassados por colegas com notas inferiores na prova, apenas devido a uma "normalização" estatística das médias de curso que dizem ser cega quanto à qualidade individual.
“Há registo de candidatos que descem mais de 400 posições devido a este fator, perdendo a oportunidade de escolher a especialidade para a qual demonstraram competência e há candidatos que, tendo tirado a mesma nota num exame que é realizado em igualdade de circunstâncias, estão separados por mais de 900 posições entre si”, escrevem.
Acrescentam ainda que, com a introdução da média normalizada com um impacto de 20%, antes ainda da PNA se realizar, existem candidatos “praticamente arredados” de aceder a algumas especialidades/hospitais, algo que dizem não acontecer até aqui.
Lembram que as regras que mudaram "a meio do jogo", pois médicos que tinham concluído o curso, por exemplo, em 2022, e estão agora a concorrer ao internato médico, viram, após concluído o seu percurso, a sua média ser introduzida “numa equação sem aviso prévio” e estão a competir “com regras retroativas que não puderam prever durante a sua formação académica”.
“Uma desigualdade flagrante”, lamentam estes médicos, que já levaram o assunto ao Conselho Nacional de Médicos Internos, à Ordem dos Médicos e à Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), aguardando agora o relatório final de apreciação desta matéria por parte da Comissão Parlamentar de Saúde, onde foram ouvidos em setembro.
Dizem ainda que a pressão excessiva criada por uma métrica que os candidatos não podem controlar “exacerba o ‘burnout’ e a competitividade”, num curso de seis anos já de si muito exigente.
“Quando o sistema de acesso é percebido como ‘injusto’ e ‘pouco democrático’, a solução para muitos jovens médicos passa por emigrar à procura de oportunidades na sua especialidade de sonho, ou permanecer como médicos indiferenciados, recusando-se a entrar num sistema pouco atrativo”, acrescentam.
Para “travar parte da fuga de médicos” e garantir a ocupação da vagas do internato, pedem a suspensão ou revogação da contabilização da média normalizada para efeitos de seriação dos candidatos.
“Estamos consciencializados de que a contabilização da média normalizada não se trata do cerne dos problemas do SNS mas o impacto da medida para a entrada no internato médico é, definitivamente, um importante fator a ter em conta para a situação atual (e futura), depois de um concurso onde esta medida foi aplicada, pela primeira vez, e com ela alguns recordes negativos foram batidos”, acrescentam.
No início do mês foi divulgado o resultado do último concurso para o internato médico, no qual ficaram por preencher cerca de 20% das 2.331 vagas abertas para os novos médicos escolherem a especialidade.