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Coordenador do programa de prevenção do suicídio quer gabinetes de apoio sem julgamento

Lusa
08-10-2025 13:10h

O coordenador do programa de prevenção do suicídio nas escolas defendeu hoje a criação de uma rede de atendimento que permita aos jovens recorrer a gabinetes de apoio, onde sejam ouvidos sem julgamento e encaminhados para cuidados especializados quando necessário.

Contactado pela agência Lusa a propósito do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala na sexta-feira, e na sequência do suicídio de dois alunos (um em maio e outro em setembro) de uma escola em Castro Daire, distrito de Viseu, o coordenador do Programa + Contigo escusou-se a comentar o caso, explicando que o programa não está a intervir nesta situação.

Defendeu, contudo, a importância de estratégias para evitar estas situações, como “estar atento a sinais que possam evidenciar sofrimento nos jovens, nomeadamente sofrimento mental”, evitar o isolamento e criar uma rede de atendimento.

Destacou a importância de criar gabinetes de atendimento a que os jovens possam recorrer e serem ouvidos “sem juízos críticos, sem juízos morais”, legitimando o sofrimento e, se necessário, encaminhados para cuidados de saúde mais especializados.

O enfermeiro especialista em saúde mental e psiquiátrica, hoje nomeado coordenador clínico da Linha Nacional de Prevenção do Suicídio 1411, defendeu ainda a importância do envolvimento de todos na prevenção.

“São importantes os colegas dos adolescentes que manifestarem este comportamento, mas são importantes também os pais, os vizinhos, os professores, os profissionais de saúde, porque é uma tarefa de todos e todos devemos estar a trabalhar neste sentido”, vincou.

José Carlos Santos frisou que “o que não ajuda é dramatizar de forma excessiva”: “Obviamente, estamos a falar de mortes e é sempre um drama e não podemos desvalorizar a dor, mas é termos a noção também de não hipervalorizar alguma sintomatologia ou algum sentimento que será normal na fase da adolescência e numa fase de desenvolvimento” que estão a passar.

Nestes casos, os jovens podem recorrer ao psicólogo da escola, ao centro de saúde ou à linha 1411, que acolhe dúvidas e oferece apoio emocional.

Criado em 2008, o + Contigo promove a saúde mental e a prevenção de comportamentos suicidários, através de intervenção na escola e nos cuidados de saúde primários, envolvendo profissionais de saúde, adolescentes, encarregados de educação, professore, auxiliares e autarquias.

“É uma intervenção em sala de aula para os alunos e depois uma intervenção específica para pais, outra para professores e assistentes operacionais”, explicou.

O responsável explicou que quando ocorre um suicídio numa escola, o programa faz um acompanhamento continuado ao longo do ano, para apoiar a comunidade educativa e prevenir o “efeito de contágio” em outros jovens.

São também acionadas “todas as redes que são necessárias criar e que são possíveis de criar” para responder à situação.

Embora o número dos suicídios entre adolescentes seja relativamente baixo em Portugal (cerca de quatro por mil habitantes) quando comparado com outros países e outros contextos, o responsável defendeu que “é um número que deve merecer a maior atenção”.

Segundo explicou, o suicídio em Portugal afeta maioritariamente pessoas idosas, mas entre os jovens cresce a preocupação com comportamentos autolesivos, como cortes ou ferimentos, em que “não está presente uma ideia de morte, mas é um pedido de ajuda” que deve ser tido em conta.

“Estes comportamentos levantam-nos algumas preocupações porque ultrapassam uma etapa importante para o comportamento suicidário, que é esta capacidade de fazer mal a si próprios”, alertou.

Defendeu que estes jovens devem ser acompanhados por um profissional de saúde para se perceber o esteve na génese do comportamento e melhorar as estratégias para lidar com a dor ou com os problemas que possam estar a ter.

No último ano letivo (2024-2025), o programa avaliou cerca de 18.000 alunos, dos quais 41% apresentavam sintomatologia depressiva ligeira e 26,5% sintomas moderados ou graves.

Foram identificados 2.069 adolescentes em risco de adotar um comportamento suicidário, sendo 70,6% raparigas.

Segundo o responsável, cerca de 200 alunos foram encaminhados para cuidados especializados.

Até agora o programa chegou a aproximadamente 80 mil alunos, em 1.215 escolas de todos os distritos do continente e ilhas.

 

Contactos de apoio e prevenção do suicídio:

Linha Nacional de Prevenção do Suicídio - 1411

SOS Voz Amiga 213 544 545, 912 802 669, 963 524 660

Conversa Amiga 808 237 327, 210 027 159

SOS Estudante 915 246 060, 969 554 545 ou 239 484 020.

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