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Uma em cada duas mulheres da Gronelândia foi vítima de contraceção forçada - Relatório

Lusa
10-09-2025 09:23h

Uma em cada duas mulheres da Gronelândia usou um DIU, aparelho de contraceção, na década de 70, na maioria dos casos consentimento das próprias, no âmbito de uma campanha realizada naquela ilha ártica, revelou terça-feira uma investigação histórica.

"Pelo menos 4.070 mulheres, já no final de 1970", receberam um DIU, concluiu a investigação apresentada cerca de dez dias após o pedido de desculpas oficial às vítimas daquela campanha de contraceção, da atual primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen.

Isto representa uma em cada duas mulheres da Gronelândia, região autónoma do reino da Dinamarca, em idade fértil naquela época.

"Os relatos das mulheres, combinados com documentos provenientes de dispensários e artigos publicados por médicos que trabalhavam na época, traçam um quadro em que o sistema de saúde realizou esforços muito ativos para promover o uso do DIU" com o objetivo de controlar a natalidade, adianta o documento.

Um total de 354 mulheres testemunharam isso, 94 delas tinham 14 anos ou menos na altura da primeira colocação de um DIU e 120 tinham entre 15 e 17 anos.

Algumas explicaram ter recebido aquele aparelho de contraceção após um parto ou um aborto, sem terem sido informadas do que se tratava.

"A maioria também considerou que não recebeu informações adequadas antes da atribuição do método contracetivo", afirma o relatório.

Muitas delas não sabiam nada sobre sexualidade e contraceção, observaram os cientistas.

A colocação do aparelho causou grande mal-estar em muitas mulheres. Muitas delas também ficaram estéreis.

"A prática da época deixou-as com um sentimento de vergonha, porque lhes foi administrado um contracetivo sem que elas o tivessem pedido e, em alguns casos, sem o seu consentimento", está escrito.

A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, apresentou, no final de agosto, as suas desculpas às vítimas desta campanha, atendendo a um pedido formulado há vários anos por aquelas mulheres.

O testemunho de uma vítima e, posteriormente, em 2022, uma série de podcasts revelaram ao grande público a existência desta campanha de contraceção, esquecida pelas autoridades públicas e reprimida pelas vítimas.

Os governos da Dinamarca e da Gronelândia concordaram então em lançar uma investigação independente sobre as práticas contracetivas, usadas, nomeadamente, nos internatos dinamarqueses que acolheram alunos daquela ilha, entre 1960 e 1991. A investigação divulgada hoje começou em 2023.

Agora, está em curso outra investigação sobre as implicações jurídicas desta campanha.

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