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Médio Oriente: Diretor da OMS avisa Israel que fome em Gaza não vai ajudar reféns

Lusa
05-09-2025 17:17h

O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) avisou hoje que a fome declarada na Faixa de Gaza “não tornará Israel mais seguro nem facilitará a libertação de reféns" em posse das milícias palestinianas.

Em conferência de imprensa na sede da organização, em Genebra, Tedros Adhanom Ghebreyesus apelou também a Israel para travar “esta catástrofe", referindo que pelo menos 370 pessoas já morreram de fome desde o início do conflito, das quais cerca de 300 só nos últimos dois meses.

"O mais intolerável sobre este desastre causado pelo Homem é que poderia parar agora mesmo. As pessoas estão a morrer de fome enquanto a comida que poderia salvá-las permanece em camiões a uma curta distância", lamentou o líder da OMS, insistindo que “esta é uma catástrofe que Israel poderia ter evitado e impedir a qualquer momento".

Tedros Adhanom Ghebreyesus frisou que usar a fome como arma contra a população civil "é um crime de guerra que nunca poderá ser tolerado" e advertiu que a sua utilização no enclave palestiniano estabelece um precedente perigoso para futuros conflitos.

Ao mesmo tempo, avisou que, "quando a fome chega, a doença também chega", apontando uma combinação de falta de alimentos e de água potável somada à sobrelotação em que muitos vivem, que deixa os habitantes do território com o sistema imunitário enfraquecido e vulnerável.

O diretor-geral da OMS assinalou o ritmo insuficiente das retiradas de doentes e feridos da Faixa de Gaza, quando o total em quase dois anos de guerra regista mais de 70 mil pessoas, mas acima de 15 mil ainda necessitam de cuidados especializados urgentes fora do território.

"Mais de 700 pessoas morreram à espera de retirada médica, incluindo quase 140 crianças", lamentou, referindo que o número de países que aceitaram acolher estes doentes é também insuficiente.

"Apelamos aos Estados para que abram os braços a estes doentes gravemente doentes e a Israel para que permita que alguns sejam tratados na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental", acrescentou.

O diretor-geral da OMS reafirmou ainda o apelo ao Governo israelita “para que ponha fim a esta guerra desumana”, e, caso não o faça, pediu aos aliados de Telavive que “usem a sua influência para pôr fim ao conflito".

Relatores de direitos humanos da ONU, organizações internacionais e um número crescente de países descrevem a campanha militar de Israel na Faixa de Gaza como genocídio.

O bloqueio total que Israel impôs à entrada de ajuda humanitária desde março até ao final de maio levou a uma situação de fome, oficialmente declarada pela ONU em agosto no norte do território mas negada pelas autoridades israelitas.

O apelo da OMS surge numa fase em que Israel desenvolve o seu novo plano militar para o enclave, que prevê a ocupação da Cidade de Gaza, na região apontada pela ONU como a mais afetada pela fome, e a deslocação forçada de centenas de milhares dos seus habitantes, gerando uma vaga de críticas internacionais e dentro do próprio país.

Israel afirma pretender eliminar as últimas bolsas de resistência do Hamas e recuperar os 48 reféns que conserva na sua posse, dos quais de calcula que 20 estejam vivos, antes de entregar a gestão do território a entidades civis que não sejam hostis a Telavive.

A guerra em curso na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque liderado pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde fez 1.200 mortos, na maioria civis, e 251 reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma ofensiva em grande escala no enclave palestiniano, que provocou acima de 64 mil mortos, na maioria mulheres e crianças, segundo as autoridades locais controladas pelo grupo islamita, destruiu a quase totalidade das infraestruturas do território e provocou um desastre humanitário sem precedentes na região.

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