O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) alertou hoje que estes profissionais dos hospitais do distrito do Porto trabalharam mais de 600 mil horas extraordinárias no primeiro semestre deste ano e que há um “elevado número em burnout”.
“Mais de 600 mil horas de trabalho extraordinário feito pelos enfermeiros que estão hoje a trabalhar nos hospitais do distrito do Porto e que equivalem à falta de 659 enfermeiros, portanto a sobrecarga é tremenda e isto põe em causa até a qualidade dos cuidados e a segurança dos próprios profissionais e isso tem reflexos que é o burnout”, declarou à Lusa Fátima Monteiro, coordenadora da direção regional do Porto do SEP.
Na conferência de imprensa que o SEP realizou hoje junto ao Hospital de Santo António, no Porto, e onde se podia ler em cartazes “Senhora Ministra: sou enfermeira, exijo valorização. Faltam enfermeiros neste serviço”, Fátima Monteiro lamentou que ao dia 26 de agosto de 2025 o Governo e o Ministério da Saúde ainda não tenham aprovado os Planos de Desenvolvimento Organizacionais (PDO), um mecanismo que permite a contratação e fixação de centenas de enfermeiros nos hospitais.
“Os PDO é o chamado mapa de pessoal em que as instituições face às necessidades de horas de cuidados dizem eu preciso de mais 20, 30, 40, o número que for necessário de enfermeiros, mas ao não estarem autorizados, as instituições não têm possibilidade de contratualizar enfermeiros para o seu quadro. Poderão contratualizar, mas com vínculo precário, mas não é com vínculo precário que se fixam os enfermeiros”, alertou.
Também em comunicado o SEP diz que há “um elevado número de enfermeiros em burnout (exaustão profissional)” e questiona-se se alguma ULS (Unidade Local de Saúde) cumpre as Dotações Seguras”.
“O recurso ilegal à programação de trabalho extraordinário aumenta, os enfermeiros que estão na prestação de cuidados veem a sua vida social e familiar ser adiada e os enfermeiros gestores desesperam diariamente na tentativa de fazerem escalas equitativas, atribuir folgas, descansos e os feriados em dívida”
Segundo aquele sindicato, a carência de enfermeiros está a agravar-se, com a ”desregulação de horários, turnos que mais aprecem uma maratona e, a conciliação da vida pessoal e profissional mais parece uma miragem”.
O enfermeiro do Hospital de Santo António Nuno Lourinho contou à Lusa que no seu serviço do Santo António faltam pelo menos uns “90 enfermeiros” para colmatar a carência de efetivos.
“Há um problema de base para a carência de enfermeiros que são as condições que são oferecidas aos enfermeiros que são sempre precárias”, acrescentou.
Segundo Nuno Lourinho, até à “abertura de concurso, há seleção, há entrevista e as pessoas entram ao serviço”. Contudo, passados alguns dias ou semanas as pessoas vão-se embora”.
As causas são várias e vão desde os custos da deslocação para os que são de fora do Porto, transportes não adequados, custo d e vida e da habitação, explicou.
Nuno Lourinho também referiu os vários anos de serviço em que não são contabilizados para efeitos de progressão na carreira e que esse facto “não é aliciante para os jovens hoje em dia”.
As propostas do SEP ao Governo passam por “planificar as necessidades de enfermeiros de curto, médio e longos prazos em função das necessidades dos portugueses em cuidados de saúde”, “contratar e reter enfermeiros”, “envolver todos os enfermeiros nas decisões das organizações ao invés da imposição de cima para baixo” e “ efetivar a valorização de todos os enfermeiros através da negociação de uma alteração à carreira de enfermagem”.