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OMS pede sistemas de saúde mais autossuficientes em África

Lusa
25-08-2025 15:39h

A Organização Mundial da Saúde (OMS) apelou hoje a um futuro sanitário para a África mais "autossuficiente" e "menos dependente" de ajuda, num contexto de cortes no financiamento por parte dos Estados Unidos e de vários países europeus.

"As reduções repentinas e drásticas na ajuda oficial ao desenvolvimento estão a afetar os sistemas de saúde em muitos países", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertando que, segundo a análise da OMS, prevê-se que a ajuda sanitária diminua "em até 40% este ano em comparação com há apenas dois anos".

Tedros afirmou que a situação “não é uma mudança gradual, é um precipício", durante a abertura da 74.ª sessão do Comité Regional para África da OMS em Lusaca, capital da Zâmbia, que se realiza até a quarta-feira e à qual assistem responsáveis de saúde de 47 países africanos.

"Há medicamentos vitais a acumular pó nos armazéns, profissionais da saúde estão a perder os empregos, clínicas estão a fechar e milhões de pessoas estão sem vacinas e sem atendimento médico", lamentou.

Tedros destacou alguns dos desafios sanitários que a África enfrenta, como a alta taxa de mortalidade infantil e materna, a estagnação ou até mesmo retrocesso na resposta ao VIH, à malária ou à tuberculose e o aumento das doenças não transmissíveis ou das doenças mentais.

Ao mesmo tempo, o continente combate uma epidemia de mpox que acumula 1.947 mortes (247 confirmadas) em 28 países desde o início de 2024; e outra de cólera, que infetou este ano cerca de 226.500 pessoas e matou quase 4.800 em 23 estados membros.

"É importante lembrar que nesta crise reside a oportunidade de nos livrarmos do jugo da dependência da ajuda e de abraçarmos uma nova era de soberania, autossuficiência e solidariedade", afirmou o diretor-geral da OMS.

Entre algumas das medidas que os países africanos podem implementar ou já utilizam para arrecadar mais fundos internamente, destacou os impostos sobre produtos como tabaco, álcool e bebidas açucaradas, a compra conjunta de produtos sanitários a nível continental e a produção local de produtos farmacêuticos.

O diretor-geral da agência de saúde pública da União Africana (UA), John Kaseya, sublinhou que um dos principais problemas do continente é a "falta de financiamento estável" e pediu que os Governos africanos sejam responsáveis no cumprimento das contribuições financeiras para tornar a Agência Africana de Medicamentos (AMA) operacional.

A reunião do Comité Regional da OMS para a África ocorre num contexto marcado pelos cortes drásticos na ajuda internacional impostos pelos Estados Unidos e por vários países europeus, que colocaram em risco a saúde e a vida de milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente no continente africano.

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