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Moçambique/Ataques: Grupo de apoio alerta para falta de apoio psicossocial em Chiúre

Lusa
25-08-2025 11:42h

Organizações humanitárias alertaram sexta-feira para a falta de apoio psicossocial especializado para os deslocados no distrito de Chiúre, principal alvo dos recentes ataques extremistas em Cabo Delgado, norte de Moçambique, apontando para o "sofrimento psicológico" das vítimas.

"Embora existam agentes de apoio nos centros, estes não são profissionais da psicologia e, para além de realizarem apenas atividades lúdicas em grupo, muitas vezes fazem correr as crianças de um lado para o outro, o que pode significar re-vitimização face às experiências traumáticas recentes", lê-se num relatório do Grupo de Trabalho Técnico de Saúde Mental e Apoio Psicossocial (MHPSS TWG, sigla inglesa), liderado por organizações humanitárias, entre as quais o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

O documento indica que estudos realizados ao nível do distrito revelam uma prevalência de sofrimento psicológico na ordem dos 70% entre os cerca de 35 mil deslocados por motivos de ataques terroristas.

"A capacidade de resposta existente - apoiada por um único parceiro - atingiu apenas menos de 2% desta população necessitada (...). Os sobreviventes da violência extrema e crianças desacompanhadas, estão totalmente excluídas de qualquer apoio psicossocial especializado", explica.

O MHPSS TWG alerta que casos de trauma severo, psicose e epilepsia permanecem sem diagnóstico ou tratamento, "agravando-se silenciosamente nos centros de reassentamento".

"A ausência de psicólogos e psiquiatras significa que mesmo estes poucos casos identificados, não recebem tratamento", refere.

Entre os desafios identificados, refere-se no documento, consta a falta de especialistas, determinada como lacuna "crítica" em Chiúre, onde casos "complexos" de saúde mental ficam sem tratamento, agravando-se e tornando-se crónicos.

Segundo o grupo, funcionários públicos, como professores, enfermeiros e policias, também não tiveram, até ao momento, "qualquer acompanhamento psicológico ou apoio em saúde mental" após vivenciarem, "situações potencialmente traumáticas", resultantes dos mais recentes ataques e deslocamentos populacionais em massa.

"O apelo (...) por psicólogos e psiquiatras deve ser a prioridade absoluta para a sustentabilidade da resposta que está a ser dada. Uma solução poderia ser o envio de equipas móveis especializadas para apoiar o distrito periodicamente", explica-se, avançando a “necessidade crucial" de alertar as organizações humanitárias sobre o vazio iminente de resposta em saúde geral e saúde mental.

 Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.

A recente onda de violência naquela província rica em gás já provocou desde a última semana de julho mais de 57.000 deslocados, de acordo com agências no terreno, sobretudo no distrito de Chiúre, sul de Cabo Delgado.

Cristóvão Chume admitiu, no final de julho, preocupação com a onda de novos ataques em Cabo Delgado, adiantando que as forças de defesa estão no terreno a perseguir os insurgentes armados.

Pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique em 2024, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado em fevereiro pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).

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