Os comissários da Comissão Pan-Europeia do Clima e da Saúde alertaram hoje que os eventos climáticos extremos na Europa são uma emergência de saúde e não apenas climática e avisaram para perigos do calor.
Numa carta aberta, os 11 comissários alertaram para a crescente crise sanitária provocada pelos eventos climáticos extremos e disseram: “Isto já não é uma ameaça distante ou um incómodo sazonal. É uma emergência de saúde pública que se desenrola em tempo real”.
A Comissão é um grupo consultivo criado sob os auspícios da Organização Mundial de Saúde (OMS) que é constituído por ex-líderes políticos e líderes que defendem a agenda de mudança climática e saúde.
“A região europeia está a enfrentar ondas de calor recorde, cada vez mais frequentes, intensas e mortíferas. Estes acontecimentos não são apenas inconvenientes – são assassinos silenciosos. Os valores costumam estar ocultos em registos de mortes como acidentes vasculares cerebrais, ataques cardíacos ou insuficiência respiratória. Mas a causa é clara.”, disseram os responsáveis.
E alertaram que estão especialmente em risco os idosos, pessoas com deficiências ou pessoas que vivem em habitações degradadas, grávidas, crianças e pessoas que trabalham ao ar livre.
“A mortalidade relacionada com o calor aumentou 30% nas últimas duas décadas, tendo sido registadas mais de 100.000 mortes em 35 países europeus em 2022 e 2023. Prevê-se que este número de mortes aumente nos próximos anos.”, diz-se na carta aberta, na qual se alerta também para o aumento de doenças antes raras na Europa, como o dengue, com os casos a terem aumentado 368% entre 2022 e 2024.
Além de fazer aumentar a afluência às urgências (por problemas cardíacos, pulmonares e renais, por exemplo), o calor também afeta a saúde mental: o sono piora, a ansiedade aumenta e a função cognitiva diminui.
Os comissários sublinharam a “necessidade urgente” de uma melhor preparação a todos os níveis do sistema de saúde e em todos os setores. “Os planos de ação para a saúde e o calor salvam vidas, desencadeando ações precoces, protegendo os mais vulneráveis e aliviando a pressão sobre os hospitais”, disseram.
Na carta aberta insistiram que a crise climática é uma crise de saúde, e recordaram que a poluição atmosférica causa mais de 500.000 mortes prematuras anualmente na região europeia, muitas atribuíveis à queima de combustíveis fósseis.
Os comissários salientaram no entanto que soluções climáticas são também soluções que protegem a saúde, como reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.
Menos poluição salva potencialmente milhões de vidas, aumentar a vegetação urbana em 30% pode reduzir as mortes relacionadas com o calor até 40%, exemplificaram na carta aberta.
Mas o que é fundamental, apontaram os responsáveis, é mudar a forma como se define e mede o progresso, porque os sistemas económicos não recompensam a prevenção.
“Os indicadores tradicionais como o Produto Interno Bruto (PIB) ignoram o que importa: o valor das pessoas saudáveis e dos ecossistemas saudáveis. O PIB pode aumentar quando os hospitais tratam vítimas de incêndios florestais, mas não capta o custo desses incêndios nem o sofrimento que causam. Nem contabiliza os benefícios da ação climática”, disseram.