Mais de 78.000 afegãos regressaram do Paquistão nos últimos quatro meses através da passagem fronteiriça de Spin Boldak, num êxodo de refugiados que se tem agravado sucessivamente ao longo do ano.
A questão é tanto mais delicada uma vez que os que foram obrigados agora a regressar tinham fugido do território afegão para o Paquistão.
Islamabade, porém, determinou a expulsão, forçando-os a regressar a um Afeganistão mergulhado numa grave crise humanitária.
O Departamento de Refugiados do governo talibã informou que, entre abril e agosto, mais de 72 mil pessoas e seis mil prisioneiros atravessaram a fronteira apenas por este ponto.
Além de disponibilizar mais instalações para os repatriados, as autoridades anunciaram a construção de seis municípios na província de Kandahar para lhes fornecer alojamento, segundo informações divulgadas pelo canal afegão Tolo News.
Este fluxo constante resulta de uma campanha maciça de expulsão de refugiados afegãos por parte do Paquistão. Muitos dos que agora são forçados a regressar fazem parte dos centenas de milhares de afegãos que fugiram do Afeganistão em agosto de 2021, com receio do regresso dos fundamentalistas ao poder.
De acordo com as Nações Unidas, os afegãos enfrentam uma das piores crises humanitárias do mundo, com mais de metade da população a necessitar de ajuda, uma economia colapsada e um sistema de direitos humanos desmantelado, sobretudo para as mulheres.
O retorno “maciço e apressado” tem “exercido uma enorme pressão sobre os serviços básicos e representa um risco de instabilidade” para toda a região, alertou na semana passada a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
O drama vive-se na fronteira, onde os regressados denunciam abusos sistemáticos por parte das autoridades paquistanesas, incluindo maus-tratos e extorsão.