Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) lideram um projeto internacional para desenvolver soluções inovadoras de prevenção e deteção precoce de cianobactérias nas águas interiores de Portugal, França e Espanha.
Em comunicado, a FCUP explica que estes organismos “são muito frequentes em albufeiras, rios e ambientes marinhos” e, em determinadas condições ambientais, “podem proliferar massivamente em poucos dias”, formando “uma camada verde espessa na superfície da água que impede a passagem da luz, provoca uma diminuição de oxigénio e um aumento de dióxido de carbono, promovendo condições que afetam os organismos aquáticos”.
As cianobactérias “podem ainda ser nefastas por produzirem toxinas nocivas”, pelo que, “com as alterações climáticas a acelerar este processo, a aposta da equipa de cientistas recai na prevenção e no controlo”.
O projeto Cyan'EAU - Sistemas inovadores para o controlo da proliferação de cianobactérias nas águas interiores do Sudoe envolve um consórcio de instituições de França, Espanha e Portugal, decorre até 2028 e envolve um financiamento de mais de 1,6 milhões de euros.
“O nosso objetivo é criar ferramentas para fazer a deteção rápida de alguns sinais indicativos da proliferação de cianobactérias, atuar através da deteção precoce e, caso não seja possível, fazer a remediação sustentável destas bactérias, anulando os seus efeitos nocivos no meio ambiente”, explica Olga Maria Lage, docente do Departamento de Biologia da FCUP e coordenadora do consórcio.
Para tal, a equipa investigadora do projeto financiado ao abrigo do programa Interreg Sudoe vai estudar e analisar zonas piloto afetadas pelas cianobactérias nos três países.
Em Portugal, as atenções estão voltadas para as albufeiras da Aguieira, no distrito de Viseu (que em 2024 esteve interdita a banhos devido à presença de cianobactérias), e de Ribeiradio, perto de Sever do Vouga, para além de outros locais nos rios Dão e Mondego.
Ao nível da prevenção, os investigadores vão fazer colheitas sedimentares para analisar a dinâmica da ocorrência das explosões de cianobactérias e relacioná-las com os parâmetros desencadeadores, tendo em vista “identificar os locais onde será necessária intervenção prioritária”.
Segundo os investigadores, “as estratégias atuais de gestão destes organismos tóxicos, muitas vezes baseadas apenas na remediação após o desencadeamento do episódio de poluição, estão a tornar-se progressivamente mais dispendiosas e menos eficazes devido às alterações climáticas”.
O projeto Cyan'EAU aposta, por isso, “na prevenção e em ferramentas de baixo custo que atuem nas diferentes fases de aparecimento de cianobactérias para o seu controlo”.
A equipa vai também realizar ‘workshops’ e sessões específicas para instituições gestoras de água e outras entidades interessadas e que possam vir a aplicar na prática as soluções desenvolvidas.