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Consórcio português quer produzir terapias inovadoras com células CAR-T

LUSA
06-06-2025 09:00h

Um consórcio português que junta clínicos, investigadores e académicos quer desenvolver capacidade nacional para produzir terapias inovadoras com células CAR-T, uma forma avançada de imunoterapia que tem demonstrado taxas de sucesso em certos cancros do sangue, foi hoje divulgado.

O consórcio é liderado por uma empresa de biotecnologia de Guimarães, a Stemmatters, o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto e a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT NOVA).

Com o nome “CAR T-Matters – Transformar o panorama da terapia com células CAR-T em Portugal” o projeto foi selecionado para financiamento competitivo pelo programa COMPETE 2030, gerido pela Agência Nacional de Inovação (ANI).

Em declarações à agência Lusa, o presidente do IPO do Porto avançou que o principal objetivo é promover a capacitação do país para passar a ser possível produzir em Portugal células CAR-T, ou seja terapias médicas avançadas.

“É um processo bastante complexo e que contempla várias iniciativas e etapas que vai demorar alguns anos. Está previsto que o projeto seja concluído em 2028 (…). Queremos desenvolver as condições para produzir estas células, o que capacitará  Portugal pois passar-se-ia a oferecer, a mais doentes, o acesso a esta tecnologia inovadora. Isto também irá atrair mais ensaios clínicos académicos, assim como da indústria, democratizando o acesso e reduzindo o custo desta terapêutica que tanto benefício tem trazido aos doentes oncológicos”, referiu Júlio Oliveira.

As terapias com células CAR-T consistem em reprogramar linfócitos T (células do sistema imunitário do próprio paciente) para que reconheçam e ataquem especificamente as células tumorais.

Informação remetida à Lusa pelos responsáveis do consórcio indica que “esta forma avançada de imunoterapia tem demonstrado taxas de sucesso sem precedentes em certos cancros do sangue”, mas que “o acesso a estas terapias em Portugal enfrenta grandes obstáculos logísticos e económicos, já que o país não dispõe, até ao momento, de capacidade própria para as desenvolver ou fabricar”.

Atualmente, os doentes portugueses candidatos a terapias CAR-T dependem totalmente de centros de produção no estrangeiro.

As células T do paciente são colhidas num hospital em Portugal e enviadas para laboratórios especializados fora do país, onde são geneticamente modificadas e multiplicadas. A terapia resultante é depois enviada de volta para ser administrada ao doente.

À Lusa, Júlio Oliveira disse acreditar que a capacitação e formação dos profissionais das várias equipas, desde as clínicas aos académicos, deverá prolongar-se “por um ano, ano e meio”, sendo “expectável se se consiga produzir CAR-Ts em dois anos”.

“A questão é a escala. Será uma escala pequena e essencialmente focada em projetos (…). Esta produção vai substituir as CAR-Ts comerciais? Não. Porque, só para se ter uma ideia da demanda, daquilo que é a necessidade de produção, no último ano, nós fizemos tantas infusões de CAR-Ts, no IPO de Porto, como tínhamos feito desde 2019”, apontou Júlio Oliveira.

Quanto à participação das outras entidades, segundo a professora e investigadora da FCT NOVA, Paula Videira, caberá a esta instituição de ensino “explorar milhares de moléculas com recurso a algoritmos de aprendizagem automática, para descobrir as mais promissoras para potenciar a capacidade anti-tumoral das células CAR-T”.

“Isto permite modelar alvos terapêuticos inovadores que escapam às abordagens tradicionais”, explica a docente.

Paralelamente, no plano industrial, a Stemmatters ficará responsável por implementar a capacidade de fabrico destas terapias celulares de acordo com os requisitos normativos e regulamentares, “estabelecendo uma cadeia integrada de desenvolvimento e translação clínica de imunoterapias celulares, capaz de suportar inovação terapêutica em Portugal”, como sintetiza o cofundador da empresa e coordenador do CAR T-Matters, Rui Sousa.

O projeto CAR T-Matters teve início em fevereiro de 2025 e terá uma duração de três anos.

Esta operação é cofinanciada pelo Programa COMPETE 2030 (Portugal 2030), através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).

 

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