Os médicos residentes do Hospital Central de Maputo (HCM), a maior unidade de Moçambique, reivindicaram hoje o pagamento de horas extraordinárias em atraso, pedindo que se “cuide de quem cuida”, ameaçando com nova greve.
“Não porque queiramos paralisar as nossas atividades, mas porque infelizmente estamos desgastados há muito tempo, porque acabamos tirando do nosso salário para manter-nos a trabalhar em trabalhos extraordinários e chegamos no final do mês sem as contas organizadas por conta disso”, disse um dos médicos, em representação do grupo que esteve hoje defronte da unidade hospitalar em reivindicação.
Segundo os médicos residentes, o HCM tem quase dois anos de “dívidas de urgências”, o setor a que estão afetos os profissionais extraordinariamente, tendo sido já realizada uma greve entre maio e julho de 2024 e que culminou, na altura, com acordos entre a classe e a direção do hospital, que, no entanto, não foram cumpridos, segundo os profissionais.
Na altura, o hospital pagou pelo menos dois meses de horas extraordinárias em atraso, avançou hoje o médico, referindo que houve, agora, tentativas de conversar com a direção, mas a responsabilidade sobre o processo é sempre atribuída às finanças.
“Quando é para receber os ordenados, fruto do trabalho, que é merecido, temos uma longa série de procedimentos burocráticos que nós não cumprimos quando vamos trabalhar”, disse o representante dos médicos, queixando-se também de descontos, “sem aviso prévio e sem informação nenhuma”, no valor das urgências do período noturno e que é diferente do atribuído em trabalhos diurnos.
“As urgências é atividade extra e essa atividade extra não temos recebido já há um tempo”, acrescentou, referindo que, caso avancem para a greve, os médicos residentes deverão apenas trabalhar no horário normal de expediente, entre as 07:30 e as 15:30.
Os médicos residentes do maior hospital de Moçambique reconhecem a importância dos serviços de urgência e do atendimento aos pacientes, mas pedem também o cumprimento do pagamento das horas extraordinárias pelo executivo.
“Seguimos protelando isso há muito tempo justamente pelo nosso sentido de humanidade e responsabilidade que temos com a nossa população, mas infelizmente os nossos dirigentes não vêm suprindo as expectativas ou as necessidades dos seus funcionários. Há necessidade de cuidar de quem cuida”, concluiu.
O ministro da Saúde de Moçambique apelou, no passado dia 12, ao diálogo para travar greves no setor da saúde, referindo que o executivo está a trabalhar para assegurar melhores condições de trabalho aos enfermeiros e outros profissionais da saúde.
O setor da saúde enfrenta, há três anos, greves e paralisações convocadas pela Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), que abrange cerca de 65.000 profissionais de saúde de diferentes departamentos.
O Sistema Nacional de Saúde moçambicano enfrentou também, nos últimos dois anos, diversos momentos de pressão, provocados por greves de funcionários, convocadas pela Associação Médica de Moçambique (AMM) exigindo melhorias das condições de trabalho.
O país tem um total de 1.778 unidades de saúde, 107 das quais são postos de saúde, três são hospitais especializados, quatro hospitais centrais, sete são gerais, sete provinciais, 22 rurais e 47 distritais, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde.