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Malária é uma doença da pobreza que podia ser controlada com recursos suficientes

LUSA
24-04-2024 09:00h

A disponibilidade dos recursos suficientes permitiria controlar, se não mesmo erradicar, a malária em África, onde se registam 94% dos casos e ocorrem 95% das mortes, disse à Lusa o especialista em parasitologia Henrique Silveira.

O investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) falava a propósito do Dia Mundial da Malária, que se assinala a 25 de abril.

O último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre esta doença indicou que, em 2022, registaram-se 249 milhões de casos de malária em todo o mundo, mais cinco milhões do que em 2021. Destes cinco milhões, 3,2 milhões ocorreram em países africanos: Uganda (0,6 milhões), Nigéria (1,3 milhões) e Etiópia (1,3 milhões). Os restantes aconteceram na Papua-Nova Guiné (0,4 milhões) e Paquistão (2,1 milhões).

“Há uns 15 anos, os números começaram a descer de uma maneira mais ou menos constante, embora não tanto como queríamos. Devido a vários fatores, como a distribuição de redes mosquiteiras, tratamentos com combinações de fármacos com a artemisinina, um maior envolvimento dos países e dos sistemas de saúde, registou-se uma melhoria global em geral”, disse.

Contudo, após o surgimento da covid-19, “houve um redirecionamento dos recursos, a urgência passou a ser para outras coisas e a malária sofreu um pouco e, nos últimos dois ou três anos, começou a aumentar”.

“É nosso dever não esquecer a malária e voltar a focar nos sucessos anteriores, para continuar este caminho da descida dos números”, defendeu.

Sobre os recursos à disposição para combater esta doença, Henrique Silveira não tem dúvidas de que, se estes fossem os suficientes, “o cenário seria completamente diferente”.

E lembrou que a malária já foi praticamente global e foi possível ir sendo erradicada, nomeadamente na bacia mediterrânea europeia.

“Se houvesse recursos ilimitados seria possível, se não eliminar, pelo menos manter a malária em controlo em muitos lugares que hoje têm números muito elevados”, frisou.

Sobre a alta prevalência em África, o especialista afirma que se deve a vários fatores, como a presença do mosquito, a presença de pessoas infetadas e condições ideais para a transmissão.

“Havendo sistemas de saúde deficitários, onde não é possível um diagnóstico atempado a todas as pessoas com sintomas de malária, e também não há o tratamento para todas as pessoas, fica difícil de controlar”, referiu.

E observou: “Não é à toa que a malária é uma das doenças da pobreza”.

O especialista disse ainda que, além das duas vacinas com a chancela da OMS disponíveis, existem dezenas de candidatos a vacinas anti-malária.

“Essas vacinas são boas, embora não tenham eficácia excelência. Sozinhas não servirão como medida única no combate à malária, mas são ferramentas importantes para diminuir os casos e, conjuntamente com outras medidas, como a utilização de redes mosquiteiras e o controlo vetorial, serão uma chave fundamental para a erradicação da malária”, disse.

A incidência da malária e as taxas de mortalidade aumentaram em todo o mundo na sequência das perturbações nos serviços de combate à doença durante a pandemia da covid-19.

Em 2019, antes da pandemia, o número de casos a nível mundial foi de 233 milhões (249 milhões em 2022).

Também o número de mortes por malária em 2022 (608.000) foi mais alto do que em 2019 (576.000).

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