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Três em 10 crianças da província angolana da Huíla sofrem de desnutrição - ONG

Lusa
23-04-2024 17:58h

A World Vision, organização não-governamental (ONG) internacional, diagnosticou, na província angolana da Huíla, num rastreio a 22.000 crianças, que cerca de 30% sofrem de desnutrição aguda moderada ou desnutrição aguda severa.

O resultado deste rastreio, realizado nas últimas três semanas, indica que “a situação é preocupante”, segundo a ONG.

“A seca no sul de Angola é uma realidade há pelo menos três décadas. A imprevisibilidade pluviométrica tem levado milhares de famílias que se dedicam à agricultura e à pastorícia a enfrentarem o desafio de colocarem comida à mesa”, refere numa nota consultada hoje pela Lusa.

As crianças diagnosticadas, em cinco municípios, têm entre seis meses e cinco anos de idade, adianta a organização, frisando que, como parte do plano de ação imediato, os casos de desnutrição aguda severa foram encaminhados para acompanhamento médico nas unidades de saúde.

Adicionalmente, estão a ser distribuídas mais de 6.700 caixas de saquetas de alimentos terapêuticos RUSF (ready-to-use-suplementary-food) aos que foram diagnosticados com desnutrição aguda moderada, dando cobertura, apenas para os próximos dois meses, para cerca de 14.000 crianças.

“As famílias também recebem o complemento alimentar Premix, mistura de farinhas de soja e milho, para reforçarem as refeições em casa. No entanto, com o encerramento dos projetos que envolvem a componente de nutrição na região, apenas a intervenção do governo local não será suficiente para incrementar o acesso dos agregados familiares aos alimentos ou tratamento das crianças com má nutrição”, acrescenta a World Vision.

Desde 1989, a World Vision atua na região sul de Angola para ajudar a aliviar as dificuldades causadas pela escassez de água que, ano após ano, se vem agravando e comprometendo as colheitas, juntando-se ainda o desafio das pragas, que, nos últimos anos, têm atacado com frequência as plantações.

Também sobre a seca no sul do país, a coordenadora de projetos e programas da Associação Construindo Comunidades (ACC), Cecília Capassi, em declarações à Lusa, considerou grave a situação, com os jovens a migrarem para outras localidades e os idosos a serem abandonados à sua sorte, havendo relato de mortes.

“Entramos na Namíbia e estão lá os angolanos, humilhados, sem voz, sem vez e sem pátria. Foram acolhidos, mas quando um governante de Angola foi para lá, desfizeram o acampamento. Há lá esse testemunho, fomos lá em fevereiro [e soubemos] que muitos foram repatriados à força e outros fugiram para Windhoek”, frisou Cecília Capassi, relatando ainda que, devido às limitações da língua, alguns angolanos se tornam pastores de fazendeiros namibianos.

  

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