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Israel: Fome imposta por Telavive é mortal para as crianças - Human Rights Watch

LUSA
09-04-2024 15:56h

As crianças em Gaza têm morrido de complicações relacionadas com a falta de alimentação “desde que o Governo israelita começou a usar a fome como arma de guerra, constituindo um crime de guerra”, defendeu hoje uma organização internacional.

Num comunicado enviado às redações, a Human Rights Watch (HRW), com sede em Nova Iorque, dá conta de relatos feitos por médicos e famílias em Gaza que descreveram a situação da grande maioria de crianças, bem como mães grávidas e lactantes, que sofrem de desnutrição grave e desidratação, com hospitais mal equipados para as tratar.

No documento, a HRW frisa que os governos “devem impor sanções específicas e suspender as transferências de armas” para pressionar o Governo israelita a garantir o acesso à ajuda humanitária e aos serviços básicos em Gaza, em conformidade com as obrigações de Israel ao abrigo do Direito Internacional e da recente decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) no caso do processo de genocídio apresentado pela África do Sul.

“O uso da fome pelo Governo israelita como arma de guerra tem-se revelado mortal para as crianças em Gaza. Israel precisa de pôr fim a este crime de guerra, acabar com este sofrimento e permitir que a ajuda humanitária chegue a toda a Faixa de Gaza sem obstáculos”, disse Omar Shakir, diretor da HRW para Israel e Palestina. 

A 18 de março passado, uma parceria coordenada pelas Nações Unidas de 15 organizações internacionais e agências da ONU que investigam a crise de fome em Gaza relatou que "todas as evidências apontam para uma grande aceleração da morte e desnutrição". 

A parceria afirmou que no norte de Gaza, onde se estima que 70% da população esteja a passar por uma “fome catastrófica”, que irá acontecer entre meados de março e maio.

A 01 deste mês, o Ministério da Saúde de Gaza informou que 32 pessoas, incluindo 28 crianças, tinham morrido de subnutrição e desidratação nos hospitais do norte de Gaza. No dia seguinte, a organização Save the Children confirmou a morte de 27 crianças por inanição e doença.

No início de março, funcionários da Organização Mundial de Saúde (OMS) encontraram "crianças a morrer de fome" nos hospitais Kamal Adwan e al-Awda, no norte de Gaza.

No sul da Faixa de Gaza, onde a ajuda é mais acessível, mas ainda muito insuficiente, as agências das Nações Unidas afirmaram, em meados de fevereiro, que 5% das crianças com menos de 02 anos estavam gravemente subnutridas.

O HRW cita no comunicado Hussam Abu Safiya, que dirige a unidade de pediatria do hospital Kamal Adwan, que indicou a 04 deste mês que 26 crianças tinham morrido depois de sofrerem complicações relacionadas com a fome - 16 das crianças tinham menos de 05 meses e 10 tinham entre 01 e 8 anos.

O Direito Humanitário Internacional, lembra a HRW, proíbe a fome de civis como método de guerra e o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI) estabelece que matar civis à fome intencionalmente, "privando-os de objetos indispensáveis à sua sobrevivência, incluindo impedir deliberadamente o fornecimento de ajuda humanitária", é um crime de guerra.

Desde os ataques de 07 de outubro de 2023 em Israel, liderados pelo Hamas, o Governo israelita tem bloqueado deliberadamente a entrega de ajuda, alimentos e combustível em Gaza, impedindo a assistência humanitária e privando os civis dos meios de sobrevivência, tal como a HRW tem vindo a denunciar.

Os funcionários israelitas que ordenaram ou levaram a cabo estas ações estão a “cometer uma punição coletiva contra a população civil e a matar civis à fome como método de guerra, o que constitui um crime de guerra”, acrescentou a organização.

As ações do Governo israelita que comprometem a capacidade da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) de desempenhar o seu papel reconhecido na distribuição de ajuda em Gaza “agravaram os efeitos das restrições”.

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