O exército sudanês denunciou o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF) à Organização Mundial de Saúde (OMS), que acusou de "ocupar e converter" 22 hospitais em "casernas militares", durante o conflito em curso desde 15 de abril.
"As milícias rebeldes ocuparam 22 grandes hospitais”, localizados na capital, Cartum, e outras cidades, e “transformaram-nos em casernas militares, depois de terem expulsado do seu interior todos os doentes e mulheres grávidas", indicaram as forças armadas sudanesas, num comunicado.
O exército descreveu estas ações das RSF (na sigla em inglês) como uma "violação dos direitos humanos", bem como um "comportamento extremamente bárbaro e terrorista".
De acordo com a nota, os paramilitares terão atacado o pessoal médico para o expulsar das instalações e roubado uma ambulância, além de terem atacado vários centros médicos, farmácias e laboratórios com artilharia pesada.
Por esta razão, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Sudão apresentou um memorando oficial de protesto à OMS, segundo o comunicado.
As Nações Unidas e muitas organizações humanitárias e médicas indicaram que quase todos os hospitais de Cartum e de outras partes do país estão fora de serviço devido aos intensos combates que começaram há um mês e que já mataram pelo menos 676 pessoas e feriram mais de 5.000.
Desde os primeiros dias de combate, as RSF controlam muitas instituições vitais, como o aeroporto, a universidade e o palácio republicano, e estão implantadas numa grande parte dos subúrbios da capital, enquanto o exército as acusa de desalojar hospitais e de expulsar civis das suas casas para se esconderem dos bombardeamentos aéreos.
Por outro lado, as RSF afirmaram hoje ter matado "dezenas" de militares e capturado mais de 700 soldados durante confrontos em Cartum Norte.
“As forças golpistas e os remanescentes do regime extinto [do antigo Presidente Omar Hassan al-Bashir, deposto em 2019] tentaram um ataque surpresa a concentrações de forças em Cartum Norte", afirmaram as RSF, num comunicado publicado na sua conta da rede social Twitter.
"As nossas forças confrontaram firmemente o agressor e levaram-no de volta para o local de onde veio", disseram, indicando que os paramilitares tomaram o controlo do campo militar de Al Sauaqa, sem qualquer declaração das Forças Armadas.
"Asseguramos ao nosso honrado povo que as RSF estão totalmente preparadas para enfrentar os planos dos golpistas e das brigadas-sombra, e que lhes daremos duras lições", afirmaram.
A declaração foi feita horas depois de o exército ter afirmado, numa declaração no Twitter, que as Forças Armadas "continuam a levar a cabo as suas ações para derrotar a rebelião".
"Há a certeza de que a vitória será alcançada em breve, se Deus quiser, e a milícia rebelde está a sofrer enormes baixas devido a golpes poderosos em pontos de encontro na capital", disse.
Neste contexto, o exército acusou as RSF de terem adotado "comportamentos terroristas" e de ter atacado as embaixadas da Arábia Saudita, da Jordânia, do Sudão do Sul e da Somália, atos de que a força paramilitar se demarcou. Denunciou também um ataque em Al Rahar, no Cordofão do Norte, onde vários edifícios governamentais foram incendiados.
"Todos os movimentos rebeldes dentro e fora da capital estão a ser monitorizados. As forças armadas estão totalmente preparadas e determinadas a impedir os planos maléficos do inimigo", declarou, antes de voltar a apelar aos membros das RSF para que se rendam às autoridades.
As hostilidades eclodiram em 15 de abril, num clima de tensões crescentes sobre a integração das RSF nas forças armadas, uma parte fundamental de um acordo assinado em dezembro para formar um novo governo civil e reativar a transição após a destituição do então presidente Al-Bashir em 2019, que foi prejudicada pelo golpe de outubro de 2021 que depôs o primeiro-ministro de unidade Abdullah Hamdok.
Os combates deixaram até agora mais de 675 mortos, mais de 5.500 feridos e quase um milhão de deslocados internos ou refugiados noutros países, segundo a estimativa apresentada no domingo pelo Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA).
As duas partes acusam-se mutuamente de ter posto em causa sucessivas tréguas, a última das quais uma trégua de sete dias patrocinada pelo Sudão do Sul, que terminou na passada quinta-feira, enquanto estão em curso conversações na Arábia Saudita entre representantes do exército e dos paramilitares para chegar a acordo sobre uma trégua humanitária de 10 dias.