A organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou hoje para um aumento da desnutrição infantil no Iémen no último ano, sublinhando que a crise “está a causar mortes evitáveis”, especialmente entre crianças menores de cinco anos.
Segundo a organização, entre janeiro e outubro mais de 7.500 crianças com desnutrição foram tratadas pela MSF, o que representa mais 36% do que no mesmo período de 2021.
Este ano, refere a MSF, os índices de desnutrição no Iémen atingiram um pico antes do que é costume (entre junho e setembro), começando logo entre abril e maio.
Esta alteração é “muito preocupante”, admitiu a organização, em comunicado hoje divulgado, no qual destaca que o número de crianças com desnutrição grave que precisam de ser internadas ultrapassou a capacidade dos vários centros da MSF, o que exigiu intervenções de emergência em alguns locais para lidar com complicações de saúde relacionadas, como diarreias, pneumonias e anemias.
A organização internacional de ajuda médica adiantou que, a partir do final de maio, foi registado um aumento constante do número de doentes com desnutrição aguda severa no hospital Al Salam, na província de Amran, tendo a taxa de ocupação de camas do centro de nutrição terapêutica intensiva atingido os 396% em setembro.
Entre janeiro e setembro, 31 crianças desnutridas morreram neste hospital por razões diretamente relacionadas com a desnutrição, contabilizou a organização não-governamental.
A MSF adiantou ainda ter documentado um aumento de internamentos no hospital geral de Hajja, onde, entre janeiro e setembro, o centro de nutrição terapêutica intensiva admitiu 2.087 crianças – a maioria das quais com idades entre os 6 e os 23 meses - com desnutrição e complicações médicas associadas.
No ano passado, sublinha também a organização médica, apenas uma em cada 10 mulheres que deram à luz neste hospital compareceu a pelo menos uma consulta pré-natal e, este ano, mais da metade das mães na maternidade sofria de desnutrição.
A MSF teve ainda de reforçar a sua resposta na província de Hodeida devido a um “aumento dramático” de casos de desnutrição aguda no distrito de Ad Dahi.
Para isso, criou um centro de nutrição terapêutica com 70 camas e facilitou o encaminhamento gratuito de crianças desnutridas menores de cinco anos para o hospital, onde, só em novembro, foram internados 282 doentes infantis.
A ONG lembrou que a desnutrição é um risco constante para as crianças do Iémen, com o país a registar picos sazonais todos os anos, geralmente associados aos períodos de interrupção da produção agrícola nas áreas rurais.
Embora esse padrão já fosse observado, a guerra civil que teve início em 2014 tornou o Iémen na maior crise humanitária do mundo.
De acordo com as Nações Unidas, 82% da população do país necessita de ajuda urgente, 16 milhões de pessoas passam fome e 5 milhões arriscam-se a morrer à fome.
O cenário leva a MSF a pedir “uma resposta integral para reforçar o alcance e a eficácia da vigilância nutricional em todo o país” e “corrigir as deficiências dos centros de cuidados primários de saúde para garantir que os primeiros sinais de desnutrição são detetados o mais rapidamente possível".