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Sala de 'chuto' no Porto ajudará a "ganhar confiança" dos consumidores - SICAD

LUSA
23-06-2022 14:57h

A sala de consumo no Porto "não é uma resposta mágica", mas permitirá "ganhar a confiança" daqueles que "de outra forma não se aproximariam do sistema", defendeu o diretor do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependência.

"Esta é uma instância fundamental para chegarmos a pessoas que de outra forma não se aproximariam do sistema. O estabelecimento de uma relação é fundamental para que depois seja possível desenvolver um trabalho de maior competência", afirmou o diretor do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependência (SICAD). 

João Goulão, que falava à Lusa a propósito da conclusão dos trabalhos na sala de consumo assistido no Porto, salientou que esta valência não é, por si só, uma "resposta mágica", mas que, em conjunto com outras respostas, tornar-se-á "útil e eficaz" na promoção de um consumo "mais seguro, limpo e higiénico". 

Considerando que teria sido "desejável" uma instalação deste equipamento "mais expedita", o diretor do SICAD disse, no entanto, estar "satisfeito" por este processo "finalmente avançar". 

Esta "nova interface", que abrirá portas "em breve" na zona da 'Viela dos Mortos', na zona de Serralves, permitirá dar resposta aos consumidores de drogas, mas também a toda a população, uma vez que o consumo de substâncias ilícitas acarreta "impactos e consequências" nas suas envolventes.

"Não há dúvidas, quer com a experiência adquirida em Lisboa, quer com a experiência já acumulada noutras partes do mundo, de que este é um dispositivo útil e integrado num sistema mais amplo de apoios sociais, de respostas de saúde e oferta de tratamento para as questões de dependência e de outras medidas de redução de risco", observou o responsável. 

O diretor do SICAD destacou ainda o quanto "fundamental" se poderá tornar a infraestrutura na aproximação dos profissionais e técnicos aos toxicodependentes. 

"Será uma plataforma a partir da qual será possível, primeiro, ganhar a confiança das pessoas e depois encaminhá-las para a resposta mais adequada à sua situação concreta. Através do ganhar de confiança, é possível mobilizar as pessoas para respostas que estão um passo à frente e que visam diminuir ou cessar os seus consumos", considerou, elencando respostas de nível social e de saúde, tanto ao nível da dependência, como do tratamento de doenças infecciosas. 

João Goulão salientou ainda que a sala de consumo assistido não irá substituir nenhuma das respostas já implementadas no terreno, ainda que algumas mereçam, face às circunstâncias atuais, um "investimento suplementar", como o conhecimento sobre a "imensidão" de substâncias psicoativas "novas e velhas" que circulam entre os consumidores.

"A área do conhecimento do que efetivamente circula, dos riscos envolvidos, das interações entre as diversas substâncias que são usadas de forma sucessiva, tudo isso é uma área que nos propomos desenvolver para melhor protegermos a população e evitarmos acidentes ou overdoses", destacou.

Foi durante a sessão de abertura da 26.ª edição da Conferência Internacional de Redução de Riscos, em abril de 2019, que Rui Moreira anunciou que a autarquia estava a trabalhar na criação de uma unidade móvel de consumo assistido como “mais uma resposta de saúde pública”.

Em julho de 2020, a Câmara do Porto aprovou o Programa de Consumo Vigiado, resultante da cooperação entre o município, o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (SICAD), o Instituto de Segurança Social e a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-N), para a criação de respostas deste tipo na cidade.

Três anos e dois meses depois do anúncio do autarca, a infraestrutura amovível, que fica hoje concluída, deverá funcionar 10 horas por dia, sete dias em horário proposto pela entidade gestora e validado pela Comissão de Implementação, Acompanhamento e Avaliação.

Com capacidade para 10 postos individuais e separação física entre o espaço para o consumo fumado e injetado, a equipa de acompanhamento será composta por profissionais em permanência, tais como dois enfermeiros, um técnico psicossocial e um educador de pares. A estes, somam-se, a tempo parcial, um psicólogo (sete horas por semana), assistente social (sete horas por semana) e um médico (quatro horas por semana).

O espaço irá funcionar por um período experimentar de um ano e contará com o apoio da câmara no montante global de 650 mil euros.

Caso a avaliação da fase experimental da sala de consumo seja favorável, seguir-se-á uma segunda fase, com duração de dois anos.

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