Os transportes públicos e locais públicos em Teerão passaram a ser alvo de medidas de higienização diárias, anunciou hoje o presidente da câmara da capital iraniana, na sequência do aumento do número de vítimas mortais para oito.
Citado pela agência oficial IRNA, Pirouz Hanachi disse que as medidas extraordinárias são conduzidas durante a noite e incidem em grandes praças, terminais de autocarros e estações de comboio para combater a potencial disseminação do novo coronavírus.
Em declarações à imprensa antes da realização de mais uma reunião do gabinete de crise criado para gerir o surto de Covid-19, Pirouz Hanachi salientou que a campanha sanitária será realizada até que a ameaça do novo coronavírus desapareça.
O dirigente acrescentou que Morteza Rahmanzadeh, responsável do Distrito 13 de Teerão, já efetuou quatro exames de despistagem do coronavírus, três dos quais deram positivo, mas que está a reagir bem.
O número de mortos provocados pelo Covid-19 no Irão aumentou hoje de cinco para oito, e o total de casos confirmados passou de 28 para 43, segundo anunciou igualmente hoje o porta-voz do Ministério da Saúde, Kianoush Jahanpour.
Este responsável disse que pelo menos 785, entre milhares de pessoas, não quantificadas, que apresentaram sintomas de gripe em idas a hospitais e clínicas, tinham sido colocadas sob cuidados especiais para exames de despistagem do Covid-19.
O primeiro caso de Covid-19 no Irão foi reportado na passada quarta-feira, na cidade santa de Qom, tendo de imediato sido decidido encerrar as escolas corânicas, onde o Corão é estudado por pessoas provenientes, não do resto do país, mas sobretudo do Afeganistão e do Paquistão.
Também hoje, o ministro iraniano da Saúde, Saeed Namaki, pediu para que se evitem viagens para Qom, um destino maioritariamente escolhido por peregrinos xiitas.
”Obviamente que não recomendamos viagens para Qom e outras cidades de peregrinação”, disse.
Além do fecho de escolas e seminários religiosos em Qom, as autoridades decidiram igualmente fechar algumas escolas em Teerão e noutras cidades, para já por dois dias, a partir de hoje.
Na zona urbana de Teerão, onde vivem cerca de sete milhões de pessoas, é cada vez mais visível o número daqueles que andam de máscara e usam luvas, evitando o contacto físico.
Numa passagem por várias farmácias, a Lusa notou serem muitos os que compram máscaras. O preço de uma caixa de 10, das mais simples sem respirador integrado, varia entre as 10 mil e as 20 mil liras iranianas (de 2,15 a 4,30 euros).
Os funcionários das farmácias, todos com máscaras, não quiseram confirmar se o preço tinha aumentado nos últimos dias, limitando-se a dizer que se “vendem bem”.
O receio estende-se a vários setores. Nos hotéis, os trabalhadores das receções alertam os estrangeiros e nacionais para terem cuidado e evitarem o contacto físico e a Lusa confirmou que, nalguns hotéis da capital, já se contabilizam prejuízos devido à anulação de reservas.
No sábado, um funcionário do Ministério da Saúde, Mohsen Farhadi, citado pelo portal eletrónico Iran Daily Times, enfatizou a necessidade de os cidadãos observarem regras básicas de higiene, como lavar as mãos e reforçarem a higiene pessoal.
Farhadi alertou ainda os cidadãos para evitarem presenças desnecessárias em locais públicos, parques, excursões e transportes públicos.
As autoridades iranianas estabeleceram 36 postos sanitários em vários pontos fronteiros, para controlar a entrada de possíveis viajantes infetados, uma medida que repete o que foi feito pelas autoridades do Iraque e do Afeganistão, países que partilham fronteira com o Irão, para tentar limitar o espalhar da infeção de viajantes iranianos.
Estas medidas coincidiram com o anúncio hoje de países vizinhos, como a Turquia, Paquistão, Afeganistão, Iraque e Koweit, do fecho das suas fronteiras com o Irão ou a proibição de entrada de pessoas provenientes do país.
Outros países da região anunciaram medidas de precaução para evitar a propagação do vírus, depois de o Irão se ter tornado, na quarta-feira, o primeiro país do Médio Oriente com casos de morte por infeção pelo Covid-19 e, hoje, o que mais mortes regista depois da China.
Depois do Iraque, que na quinta-feira proibiu a entrada de iranianos no país e viagens de iraquianos ao Irão, assim como a suspensão dos voos de e para aquele país, a Turquia anunciou hoje o “encerramento temporário” da fronteira terrestre com a República Islâmica e a suspensão das ligações aéreas.
A Turquia decidiu ainda encerrar as estradas e caminhos de ferro que atravessam a fronteira, a partir de hoje, às 17:00 locais (14:00 em Lisboa), e suspender unilateralmente o tráfego aéreo, a partir das 20:00 locais (17:00 em Lisboa), o que “significa que as partidas do Irão para a Turquia param, mas as partidas para o Irão continuam”.
O Paquistão anunciou o encerramento da fronteira com o Irão “devido a informações sobre casos de coronavírus no país”, e o Afeganistão anunciou “a interdição temporária de qualquer viagem de ou para o Irão”, por via aérea ou terrestre.
Outros países da região, que não têm fronteira terrestre com o Irão, anunciaram medidas.
A Jordânia proibiu a entrada no país a qualquer cidadão não-jordano proveniente da China, do Irão ou da Coreia do Sul, os três países com mais casos mortais provocados pelo novo vírus.
Segundo um comunicado oficial, como “medida de precaução”, os jordanos que cheguem ao país provenientes de um destes países “serão colocados de quarentena durante duas semanas”, equivalente aos 14 dias definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o período de incubação do Covid-19.
O Koweit suspendeu a entrada nos seus portos de navios provenientes do Irão, dois dias depois de ter ordenado a suspensão de todos os voos da companhia aérea estatal Kuwait Airlines para o Irão.
A Arábia Saudita proibiu, na sexta-feira, as viagens de sauditas ao Irão e a entrada de não-sauditas provenientes do país.
O Bahrein proibiu a entrada no país a não-nacionais que nos últimos 14 dias tenham estado no Irão, Singapura, Malásia ou Coreia do Sul, e determinou que os seus cidadãos nessas condições fiquem de quarentena durante o mesmo período.
Como “medida preventiva”, as autoridades anunciaram o encerramento de escolas e universidades, cinemas, teatros e outros locais, em 14 das 31 províncias do país, incluindo a de Teerão.