Em contagem decrescente para a Cimeira Social do Porto, ponto alto da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, a azáfama é enorme, sobretudo para ultimar a sala principal onde predomina a cortiça e o cheiro a pinheiro.
“É a primeira vez que vejo a sala e estou absolutamente encantada e fascinada”, afirmou à Lusa a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, durante uma visita ao Palácio de Cristal, local escolhido para a instalação da mesa do Conselho Europeu.
O Palácio de Cristal, recentemente qualificado, está irreconhecível no interior, passando de uma sala de concertos para uma sala de reunião informal dos Chefes de Estado e de Governo onde, para já, sobressai o azul escuro.
Ana Paula Zacarias, que há uns meses esteve no local para perceber como era o espaço, fala numa “transformação fantástica”, muito graças “aos efeitos das cortinas de luzes”.
E é precisamente das luzes que a secretária de Estado “gosta menos”, preferindo que fossem um “bocadinho mais discretas”, algo que os técnicos irão, até ao arranque da cimeira, resolver, sublinhou.
De resto, nada a apontar. Ana Paula Zacarias considerou que a cenografia está “muito interessante” e faz jus à presidência portuguesa, ao Porto [cidade à qual está associada a cor azul devido ao FC Porto] e ao emblemático Palácio de Cristal.
Mas, há um elemento “particularmente interessante” nesta sala, disse a governante, referindo-se ao “cheiro ao pinheiro” que se sente no ar mal se entra.
Esse “cheiro a pinheiro” advêm do facto das mesas serem feitas de materiais recicláveis e sustentáveis, contou.
A utilização de materiais nacionais, sustentáveis e ligados à floresta são “a marca” desta sala e o mote de toda a conceção do mobiliário, revelou à Lusa a designer responsável pelo mesmo, Ana Mestre.
“A mesa do concelho é uma estrutura modular feita a partir de materiais reciclados, nomeadamente cortiça e pinho nacional em fim de vida, recuperado a partir de paletes que estavam em desuso e que não poderiam ser usadas”, explicou.
Além da mesa, também as cadeiras da zona social (chamada vip) são um tributo à floresta, integrando vários compósitos feitos a partir da recolha de folhas ou troncos, daí o cheiro característico, acrescentou.
Já algumas iluminarias e painéis foram feitos com musgo e as alcatifas a partir de econyl, material produzido a partir de redes de pesca, salientou a designer.
“O espaço ficou muito interessante atendendo às dificuldades em termos de covid-19, sobretudo à obrigatoriedade de distanciamentos social, mas está um espaço que pode acolher com toda a segurança Chefes de Estado e de Governo que nos visitam e todas as comitivas que os acompanham”, reforçou a secretária de Estado dos Assuntos Europeus.
Na envolvência do Palácio de Cristal, as carrinhas de telecomunicações, materiais de construção civil e máquinas são a normalidade, estando todo o espaço e envolvente a “ganhar forma”. A isto junta-se o barulho dos equipamentos usados pelos jardineiros no corte da relva e dos arbustos.
Cenário idêntico vive-se no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, de frente para o rio Douro, onde se ultimam os preparativos para acolher a Conferência de Alto Nível e sessões de trabalho paralelas (`workshops´).
Na opinião de Ana Paula Zacarias, este centro de congressos é “muito bom e adaptado” aos trabalhos que aí vão decorrer, nomeadamente à reunião com cerca de 150 participantes envolvendo Chefes de Estado e de Governo, parceiros sociais, representantes do Parlamento Europeu e de organizações internacionais.
Devido à pandemia de covid-19, as lotações das salas foram reduzidas e as cadeiras colocadas à distância recomendada.
Até ao momento, apenas a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro holandês, Mark Rute, não vão marcar presença na Cimeira Social devido à situação pandémica nos seus países.
Os restantes, a comparecerem, vão levar na bagagem “alguns aspetos da cultura portuguesa”, nomeadamente Vinho do Porto, livros, chocolates e sabonetes, confidenciou Ana Paula Zacarias.
Inês Lucas, proprietária da Cafetaria Pedro Cem, nas imediações do Palácio de Cristal, não espera presentes, mas sim clientes, sobretudo jornalistas, motoristas, polícias e seguranças.
Também espera cumprimentar “um dos presidentes”, seja ele qual for, afirmou à Lusa.
Menos otimista está Paulo Sousa, taxista na envolvente do palácio, que duvida que tenha mais pessoas para transportar porque todos os participantes devem ter transporte e as estradas vão estar cortadas.
“Não prevejo grande fluxo, até porque, a segurança vai ser apertada. Já andam aí muitos carros de consulados, seguranças e polícias”, concluiu.
A Cimeira Social, ponto alto da presidência portuguesa do Conselho da UE, vai decorrer nos dias 07 e 08 de maio na cidade do Porto, com foco no debate do plano de ação da Comissão para o Pilar Europeu dos Direitos Sociais com agentes políticos, empregadores, trabalhadores e setores da sociedade civil.