O primeiro-ministro da Eslovénia abandonou hoje um debate virtual no Parlamento Europeu (PE) sobre a liberdade de imprensa no seu país, depois da Assembleia europeia descartar a exibição de um vídeo que político tinha enviado antes da sessão.
“Disseram-me que o primeiro-ministro se desconectou, pelo que entendo que a sessão não foi do seu agrado. Lamento que se sinta assim, mas não creio que seja apropriado enviar um vídeo no momento em que a reunião começa”, declarou sobre o gesto a eurodeputada holandesa Sophie in 't Veld, presidente do grupo de seguimento para a democracia, Estado de direito e direitos fundamentais.
Este grupo faz parte da comissão de Liberdades Civis do PE e debatia hoje com o primeiro-ministro esloveno, Janez Jansa, a situação da liberdade de imprensa no seu país.
Desde a chegada ao poder, em março de 2020, Jansa foi alvo de muitas críticas dentro e fora do país por ataques a jornalistas e medidas polémicas que afetam o funcionamento e independência dos meios de comunicação nacionais.
As suas ações ganham maior relevância porque a Eslovénia vai assumir a presidência rotativa da União Europeia – atualmente a cargo de Portugal – no dia 01 de julho e durante o segundo semestre de 2021.
No dia 05 de março, o governo esloveno recusou participar num debate virtual sobre a liberdade dos meios de comunicação organizado pelo PE e pediu o adiamento do mesmo para hoje, com a intenção de comparecer fisicamente.
Tanto na quinta-feira como hoje, estava prevista uma cimeira presencial de líderes europeus em Bruxelas, mas devido ao aumento de casos de covid-19 em vários Estados-membros foi decidido transformá-la numa videoconferência que terminou na quinta-feira.
Por isso, Jansa não pôde deslocar-se à capital belga, mas, ainda assim, juntamente com o seu ministro da Cultura, Vasko Simonit, decidiram juntar-se ao debate de hoje num primeiro momento.
Após uma breve declaração inicial, Jansa pediu para reproduzir um vídeo que tinha enviado ao PE.
No entanto, a parlamentar Sophie in ‘t Veld afirmou que parte do vídeo foi recebida “minutos antes” do início da reunião, e um segundo segmento quando o encontro já tinha começado.
A representante dos Países Baixos recordou que “ver vídeos” não faz parte das atividades atuais numa reunião de eurodeputados, mas ressalvou que o mesmo não iria ser “suprimido” e que se o seu conteúdo fosse “relevante” para a análise do grupo de seguimento seria tomado em conta e tornado público.
“Não há realmente nenhuma razão para temer que algo seja censurado”, constatou, acrescentando que a exibição do mesmo poderia ocorrer mais tarde.
Jansa insistiu em expressar o seu desacordo e que não tinha sido informado de que não haveria tempo para reproduzir o vídeo, apesar de tê-lo enviado “três horas antes”.
Como o PE não concordou em reproduzir as imagens, Jansa desligou-se da chamada.
Sophie in ‘t Veld considerou que é uma “questão de cortesia” entre políticos não se tratarem “dessa maneira”, referindo-se ao abandono da cimeira do chefe do executivo esloveno.
“Não creio que sejam modos adequados entre políticos em democracia”, declarou, destacando que a Europa “não é adversária” de Jansa.
Após a saída do primeiro-ministro, a maioria dos eurodeputados expressaram o seu apoio à colega parlamentar holandesa.
Antes de sair, Jansa garantiu que o seu governo não tem “nada a esconder” e está preparado para debater “qualquer problema” relacionado com o Estado de direito ou liberdade de imprensa.