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Funerais Covid-19: “Consideramos esta norma da DGS despropositada, fora do contexto e no timing errado “– afirma Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL)

CANAL S+ / VD
15-02-2021 10:43h

Perante a atualização da norma da Direção Geral de Saúde (DGS) sobre os funerais de vítimas da COVID-19, que permite agora a “abertura do caixão por instantes para reconhecimento visual do corpo por um familiar próximo”, a Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL) mostra-se indignada, como revelou ao Canal S+ o presidente da ANEL, Carlos Almeida.

O responsável recorre à ironia para expressar o seu estado de alma ao dizer que “Não há problema os operadores funerários arriscarem, todos os dias, as suas vidas para que os familiares vejam o ente querido”.

Carlos Almeida relembra apenas que “num pico de óbitos, há dificuldade de cremação dos corpos” como de resto tem estado a acontecer na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), a mais afetada pela 3ª vaga da pandemia. O presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas revela que “neste momento, Lisboa tem 3 crematórios e dá resposta numa semana”. Com esta demora, “o contacto visual que as pessoas vão ter não é a que desejavam”, assegura.

Os casos recentes, que ocorreram no norte do país, de famílias que foram informadas da morte dos seus entes queridos, apesar de ainda se encontrarem internados em unidades hospitalares, levaram Carlos Almeida a alertar os seus associados para confirmarem sempre a identidade do morto, na casa mortuária, através da braçadeira colocada à entrada da unidade hospitalar. O presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas afirma, nesta entrevista ao Canal S+, que “muitas vezes o operador funerário é um saco de boxe”.

 

Apesar de colocarem as suas vidas em risco, diariamente, ao organizarem funerais e cremações com doentes que perderam a vida por causa da COVID-19, os profissionais do sector funerário continuam a não estar vacinados, nem dispõem de uma previsão de data para isso acontecer.

Carlos Almeida, presidente da ANEL adianta que “os meus associados estão revoltados” e volta a ironizar, dizendo: “Acho que temos de ter prioridades. Serão os nossos políticos, pessoas que têm de tomar decisões todos os dias que estão mais expostos que outras pessoas”, remata.

Com cerca de 5000 profissionais, o sector funerário está a ter dificuldades em lidar com um pico tão significativo de mortalidade, como a que se registou em janeiro deste ano.  Carlos Almeida lembra que “é impensável aumentar a cadência de cremações”. O dirigente da ANEL recorda que, em Milão, colocaram os crematórios em non-stop e acabou mal, porque “os equipamentos têm de ter determinados cuidados”, adverte.

A solução, apesar de comportar custos adicionais, pode passar por realizar as cremações a norte de Lisboa, nos concelhos de Santarém, Almeirim ou Leiria que dispõem de crematórios “com mais desafogo”.

A crise económica e social, motivada pela pandemia da COVID-19, tem conduzido muitas famílias a situações de carência financeira, até porque há agregados familiares onde várias pessoas perderam a vida. Carlos Almeida defende, por isso, a criação de produtos financeiros pensados especificamente para funerais com taxas de juro simpáticas na casa dos 5 a 6%.

No fim de semana passado, começaram a ser vacinados contra a COVID-19 as forças policiais do país.  Dentro de três semanas, cerca de vinte mil agentes vão ficar inoculados contra o SARS-COV 2.

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