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África do Sul pede à ONU apoio para reconstruir “economias destruídas” e combater racismo

Lusa
22-09-2020 18:25h

O Presidente da África do Sul apelou hoje à comunidade internacional para apoiar financeiramente os países africanos a edificarem "economias destruídas" e a combater o racismo mundial.

"Hoje lutamos contra os fogos de uma pandemia mortal, do racismo e do preconceito, da violência, da guerra e do extremismo e, acima de tudo, da pobreza e da desigualdade", disse Matamela Cyril Ramaphosa.

Na sua intervenção durante o debate geral da 75.ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o líder sul-africano afirmou que a pandemia provocada pelo novo cornavírus colocou a comunidade internacional perante a "escolha entre a cooperação global prevista na Carta da ONU ou a busca de interesses próprios e o unilateralismo".

"É também uma escolha entre justiça económica ou desigualdade crescente, o caminho que escolhermos agora determinará nosso destino coletivo", declarou.

Sobre o combate à pandemia de covid-19 em África, Ramaphosa, na qualidade de líder da União Africana (UA), disse que a resposta à pandemia tem sido "rápida e eficiente".

"Temos uma estratégia continental para combater a pandemia, suportada pelas comunidades económicas regionais no nosso continente, a UA criou um fundo de resposta à covid-19 e lançou uma plataforma de suprimentos médicos para garantir que todos os países tenham acesso a equipamentos e suprimentos necessários", explicou.

No entanto, o líder africano disse que "a pandemia inevitavelmente atrasará” as “aspirações de desenvolvimento" no continente.

Nesse sentido, Ramaphosa disse que a África do Sul endossava o apelo feito em julho pelo secretário-geral das Nações Unidas António Guterres na 18.ª palestra anual da Fundação Nelson Mandela.

"Ele disse que devemos criar oportunidades iguais para todos, que devemos promover um sistema comercial multilateral mais inclusivo e equilibrado, que a arquitetura da dívida deve ser reformada e que deve haver maior acesso a crédito acessível para os países em desenvolvimento", referiu Ramaphosa.

"É no espírito deste novo acordo global que apelamos à comunidade internacional e aos nossos parceiros internacionais para apoiar a implementação de um pacote de estímulo abrangente para os países africanos", declarou.

Segundo Ramaphosa, o apoio da comunidade internacional permitirá aos países africanos "não só mitigar os impactos da covid-19 na saúde”, mas também ajudar “na imensa tarefa” de reconstruir as suas “economias destruídas".

"Como União Africana, sentimo-nos encorajados pela colaboração do G20, do FMI [Fundo Monetário Internacional], do Banco Mundial e das Nações Unidas para encontrar soluções para a sustentabilidade da dívida nos países em desenvolvimento", frisou.

No encontro virtual da organização multilateral, iniciado hoje a partir de Nova Iorque com a pandemia de covid-19 como pano de fundo, Ramaphosa disse ainda que a comunidade internacional deve expandir oportunidades económicas para todos, em particular para os jovens, mulheres e pessoas vulneráveis no mundo "livre de fome, doenças, insegurança e de guerras".

"O ano de 2020 será lembrado pelo grande movimento contra o racismo sob a égide do movimento #BlackLivesMatter", afirmou Ramaphosa, salientando que "como país que conheceu muito bem a angústia do racismo institucionalizado, a África do Sul apoia as demandas por uma ação rápida contra o racismo, seja por indivíduos, empresas, funcionários ou pelo Estado”.

O Presidente sul-africano é o primeiro líder mundial nas Nações Unidas a mencionar o movimento antirracismo.

"A África do Sul apela às Nações Unidas para que não poupem esforços para acabar com o preconceito e a intolerância em todas as suas formas e onde quer que se encontrem", sublinhou.

Vinte e seis anos após a queda do ‘apartheid’, que culminou na eleição do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) nas primeiras eleições multipartidárias e raciais, realizadas em 1994, a África do Sul permanece uma das sociedades mais desiguais no mundo, marcada pela brutalidade policial, racismo, pobreza extrema e xenofobia.

O chefe de Estado sul-africano apelou ainda ao levantamento das sanções económicas contra o Zimbabué e o Sudão, lembrando também que os povos do Saara Ocidental continuam a viver sobre ocupação, exortando à autodeterminação da Palestina.

O Presidente Ramaphosa terminou a sua intervenção com um apelo a uma maior representação dos países africanos no Conselho de Segurança da ONU, afirmando: “A composição atual do Conselho de Segurança não reflete o mundo em que vivemos”.

A África do Sul está em seu último ano de mandato como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (UNSC, na sigla em inglês) e assumirá a Presidência do Conselho em dezembro de 2020.

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