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“Neste momento a Ciência é uma base muito menor da decisão”, afirma António Vaz Carneiro

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22-09-2020 11:18h

O Diretor do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa mostra-se bastante preocupado com a gestão da pandemia da COVID-19 que “começou a ser politizada”.

António Vaz Carneiro explica que “se no início a gestão foi cuidadosa com base científica, agora é assumidamente uma gestão política”. O professor da Faculdade de Medicina de Lisboa dá como exemplo os Estados Unidos, onde a esquerda defende “distanciamento social e o confinamento” e a direita “a manutenção da economia com tudo a funcionar sem grandes restrições”. Para o investigador clínico, matérias desta importância, como é o caso de uma pandemia, não devem ser geridas através da Política, mas da Ciência, recorrendo ao que é, de facto, mais aconselhável para todos.

Na origem do problema, não está apenas o facto de ser um novo coronavírus, do qual sabemos pouco. Na verdade, em apenas seis meses, foram publicados em todo o mundo mais de 50 mil artigos científicos sobre o coronavírus que apareceu em Dezembro de 2019, na província de Wuhan, na China. O problema é que não houve tempo para fazer o que sempre se fez: a devida peer-review (revisão dos pares), ou seja a submissão dos trabalhos científicos ao escrutínio de um ou mais especialistas do mesmo perfil académico que o autor.

António Vaz Carneiro sublinha que “nunca na vida pensou viver um cenário destes, com as revistas mais conceituadas do mundo a retirarem os seus artigos, assumindo a existência de erros grosseiros, de métodos pouco credíveis ou de falhas graves”.

O diretor do Centro de Estudos de Medicina Baseada em Evidência confessa-se “muito preocupado com o relaxamento e degradação dos processos de controle e qualidade dos estudos publicados”.

António Vaz Carneiro alerta que todo este cenário pode “alimentar um fogo muito perigoso” que se prende com alguma vontade de descredibilizar a Ciência. O professor garante que a situação “vai deixar cicatrizes profundas”, mesmo após o aparecimento de uma vacina para a COVID-19.

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