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COVID-19: “A parte humana, de relação, é das coisas que mais nos tira esta pandemia” - Patrícia Isidro Amaral

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10-04-2020 20:57h

De sorriso fácil, Patrícia Isidro Amaral é Médica especialista em Ginecologia-Obstetrícia.

Em entrevista via Skype, explicou quais os desafios de ajudar a dar à luz em plena pandemia da Covid-19.   

“Muita coisa mudou até porque as próprias pessoas têm medo” começa por dizer Patrícia Isidro Amaral, a propósito das alterações provocadas pela pandemia da Covid-19.

No que respeita à área da ginecologia, os protocolos são similares, quer estejamos a falar do público ou do privado. As consultas de ginecologia de rotina, não urgentes, foram adiadas e Patrícia Isidro Amaral tem recorrido à teleconsulta ou à videoconsulta, nos casos em que é necessário mostrar resultados ou discutir a evolução terapêutica.

Mas a área da ginecologia comporta uma parte do exame objetivo que, a não ser urgente, tem mesmo de ser adiada porque “é difícil fazer um exame objetivo ginecológico ou a colheita de material, como no rastreio do cancro do colo do útero, sem ser presencialmente”, afirma. 

O que tem sido mais difícil de gerir é a obstetrícia, “porque não é tão adiável” e as grávidas têm de continuar a ser vigiadas.

Patrícia Isidro Amaral explica o que está a ser feito, neste sentido, para dar resposta às mulheres grávidas.

Para além de alterações a nível de protocolos, como o espaçamento das consultas e a prestação de um apoio mais digital, também o panorama das consultas presenciais sofreu uma transformação.

Do outro lado da mesa, ao invés de serem acolhidas com um grande sorriso, Patrícia Isidro Amaral recebe agora as suas pacientes de máscara e viseira, equipamentos necessários, mas que não permitem o estabelecimento de uma comunicação visual eficaz e a criação de uma relação de empatia entre médico e paciente.

Este reforço, em termos de material de proteção individual para os profissionais de saúde, aconteceu a partir do momento em que Portugal entrou na fase de mitigação, “momento em que todos passámos a ser suspeitos”.

Todas as grávidas que necessitam internamento para o parto ou que entram em trabalho de parto espontâneo, passaram a ser testadas para a Covid-19 e os resultados têm sido positivos, por serem negativos.

Os partos fazem, obviamente, parte dos procedimentos inadiáveis, porque em tempos de pandemia, os bebés continuam a nascer.

Na sala de partos, Patrícia Isidro Amaral encontra agora, e em alguns hospitais, grávidas sozinhas e com máscara.

As preocupações de quem vai dar à luz em plena pandemia também são diferentes e acrescidas, quer no parto, quer no pós-parto.

Agora, quando vai `passar a visita`, as parturientes estão sozinhas ou com os respetivos companheiros. Já não há avós, irmãos, família a ver os recém-nascidos, numa altura que se quer de celebração, o nascimento.   

Para Patrícia Isidro Amaral, “a parte humana, de relação, é das coisas que mais nos tira esta pandemia”.

Patrícia é médica especialista em Ginecologia-Obstetrícia, mas a hipótese de viver uma época como a que estamos a viver agora, nunca lhe passou pela cabeça.

“Ninguém estava preparado para viver uma pandemia”, realça. Não vinha nos manuais de medicina.

E muito mudou ao nível de rotinas, numa vida que “deixou de ter tudo o que fazia parte da vida habitual”. Por isso, Patrícia Isidro Amaral não partilha da realidade das pessoas que dizem que agora têm mais tempo em termos familiares porque, agora, se sente mais separada. Dos três filhos e dos pais.

Para esta médica e referindo-se aos profissionais de saúde, o grande desafio é  “reinventarmo-nos”.

“Conseguir manter a qualidade dos cuidados de saúde de uma forma não presencial, recorrendo ao desenvolvimento tecnológico que temos ao nosso dispor, num país habituado a cuidados de saúde presenciais e de proximidade”, remata. 

 

     

   

 

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