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Covid-19: Falta de compreensão do Governo atrasou planos do Ministério da Saúde no Brasil

LUSA
03-04-2020 19:46h

O presidente da câmara baixa do Congresso brasileiro, Rodrigo Maia, disse hoje que a falta de compreensão do Governo sobre os riscos do novo coronavírus atrasou o planeamento do Ministério da Saúde para combater a pandemia.

"Talvez nesse tema as informações que já tínhamos e os alertas que o ministro [da Saúde, Luiz Henrique] Mandetta já vem oferecendo há algum tempo, talvez nós pudéssemos ter tido uma ação para organizar melhor esse processo", disse Maia, numa videoconferência obtida pelo portal de notícias brasileiro G1.

"Acho que em alguns setores faltou acreditar que os impactos seriam muito grandes. Na saúde as coisas caminham, mas quando não tem uma compreensão de todo o Governo, isso acaba atrasando o planejamento do Ministério da Saúde", acrescentou.

O presidente da câmara baixa, um dos políticos mais influentes do país, também avaliou que nas últimas duas semanas começou a haver um entendimento maior dentro do Governo sobre como enfrentar a crise social e de saúde provocadas pela pandemia.

O Brasil anunciou medidas para equipar hospitais e também ações para conter danos económicos como o pagamento de um auxílio para trabalhadores autónomos e informais, que vivem de pequenos trabalhos, no valor de 600 reais mensais (105 euros) e também uma medida que autoriza a diminuição da jornada de trabalho e o complemento do salário dos empregados do setor privado, para conter despedimentos.

Estas medidas respondem aos anseios de parte da sociedade brasileira que está em casa em diversas cidades e estados cumprindo quarentena para evitar a proliferação rápida da covid-19.

Rodrigo Maia também defendeu o ministro da Saúde, que tem sido atacado pelo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, por recomendar medidas de isolamento social conforme as determinações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Bolsonaro entrou em choque com Mandetta porque defende que as pessoas que não têm problemas de saúde e que têm menos de 50 anos devem regressar às ruas e aos seus empregos por acreditar que o isolamento social terá forte impacto na economia do país.

"Certamente se o Presidente troca o ministro ele vai mudar a política do Ministério [da Saúde], porque ele não acredita naquilo que o ministro está fazendo. Ao mesmo tempo, ele não tem coragem de tirar o ministro e mudar oficialmente a política. Ele fica numa posição dúbia", concluiu Maia.

O Governo brasileiro informou na quinta-feira que o Brasil tem 299 mortos e 7.910 infetados pelo novo coronavírus, naquele que foi o terceiro dia consecutivo em que o país sul-americano ultrapassou os mil casos confirmados da covid-19.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 55 mil.

Dos casos de infeção, cerca de 200 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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